sexta-feira, 28 de março de 2008

Nesta Edição

EDITORIAL
Vamos que vamos!

Há coisas boas acontecendo. Mas só depende de nós vencer a guerra contra as operadoras, e não apenas uma ou outra batalha. Tome uma atitude! Procure o deputado no qual você votou!

ASSINATURA MENSAL
Chame o ladrão! Chame o ladrão!

A indecente cobrança mensal da assinatura nas faturas de telefonia fixa, furto perpetrado pelas operadoras com a cumplicidade das autoridades, pode estar com os dias contados. Só depende de nós.

PORTABILIDADE NUMÉRICA
Seu número para sempre!


Quantas vezes você pensou em trocar de operadora, mas não o fez apenas porque, de tão antigo, seu número virou uma espécie de assinatura, de marca registrada no relacionamento profissional?

INTERNET VELOZ
Anatel de olho na banda larga. Demorou!

Conselheiro da Anatel defende que, nas telefonias fixa e móvel, os sistemas de banda larga sejam tratados como serviço público, que, ao menos em tese, não pode sofrer interrupção.

DIREITOS DO CONSUMIDOR
Defesa dos usuários ganha reforço. E daí?

O Ministério das Comunicações e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada ao Ministério da Justiça, agora têm assento no comitê. Resta saber se, agora, finalmente a coisa vai...

EDITORIAL
Vamos que vamos!

VIVA-VOZ está pegando fogo. Além da possibilidade de, finalmente, vermos atendidas duas de nossas mais antigas reivindicações (o fim da cobrança mensal de assinaturas, na telefonia fixa e a manutenção do número antigo celular, quando trocamos de operadora), esta edição fala da intenção do governo, de enquadrar os sistemas de banda larga na categoria serviço público, o que, em tese, faz dele algo que não pode falhar... Bom demais. VIVA-VOZ também anuncia o reforço do Comitê de Defesa dos Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações.

Mas nada disso basta, se você, caro leitor, não tomar uma atitude que ajude a mudar a ordem das coisas... Que tal começar votando no fim da cobrança mensal da assinatura, que só vai passar, na Câmara dos Deputados, se fizermos pressão?

Que tal fazer uma lista das dificuldades que enfrentamos, na relação com as operadoras e exigir dos parlamentares que se elegeram com o nosso voto que proponham leis de defesa dos nossos direitos.

Vamos que vamos! Aqui, está valendo a velha máxima do futebol: quem não faz leva!
ASSINATURA MENSAL
Chame o ladrão! Chame o ladrão!

A indecente cobrança mensal da assinatura nas faturas de telefonia fixa, furto perpetrado pelas operadoras com a cumplicidade das autoridades, pode estar com os dias contados. Só depende de nós.

Você também não se conforma com essa história de pagar para sempre pela assinatura? Você tem uma chance de ver essa verdadeira indecência finalmente abolida. Basta ligar, gratuitamente, de segunda a sexta-feira, de 8 às 20 horas, para o número 0800-619619, da Câmara dos Deputados, em Brasília. Quando a chamada for atendida, não digite nada. Faça tal e qual a gente sempre faz, quando o menu é irritantemente longo (quase sempre...): espere para falar com o atendente. Assim que ele se identificar, diga-lhe que está telefonando, a fim de votar a favor do fim da taxa. Simples assim. É que o projeto-de-lei de n.º 5476, de autoria do deputado Marcelo Teixeira (PMDB-CE), tramitando na Comissão de Defesa do Consumidor, na Câmara dos Deputados, depende do seu voto para virar lei. E, se virar, será o fim da taxa mensal cobrada a título de assinatura, no valor de R$ 40,37, no caso de assinantes residenciais, e de R$ 56,08, paga pelos clientes comerciais.

Como é que você nunca soube disso? Adivinhe! Você acha que as operadoras, anunciantes pesadas da maioria dos veículos das mídias impressa e eletrônica, permitiriam que jornais, revistas, rádios e TVs publicassem esse tipo de informação! Você acha que uma Telefônica, com as contas no vermelho, a ponto de ser forçada a demitir 800 pessoas num novo e traumático corte, apoiaria uma ação como essa? Jamais.

Se você quer o fim dessa indecência, mexa-se! Ligue para 0800-619619, vote e divulgue a informação!“Não adianta ficar, apenas, reclamando. Vamos tomar uma atitude”, conclama a advogada Alessandra de Godoy Kemp, que lidera, em São Paulo, capital, ações pela divulgação e adesão ao movimento.

PORTABILIDADE NUMÉRICA
Seu número para sempre!

Quantas vezes você pensou em trocar de operadora, mas não o fez apenas porque, de tão antigo, seu número virou uma espécie de assinatura, de marca registrada no relacionamento profissional? Finalmente, agora, quando você quiser dar as contas da sua operadora e testar outro provedor, poderá fazê-lo, sem perder o direito de antigo número. Ele o acompanhará, aonde quer que você vá. A esse conforto ou conveniência convencionamos chamar de “portabilidade numérica”, que, segundo confirma a Anatel, começa a vigorar no mês que vem. Manter o número do cliente que lhe chega não é coisa muito fácil. Exige que a operadora faça uma série de adequações, sobretudo, nos sistemas de billing (tarifação dos serviços prestados) e CRM (Customer Relationship Management), que ajuda a organizar as relações das empresas com os clientes. Mas... nada grave. Afinal, vale tudo, num mercado como o brasileiro, muito perto de atingir esgotamento: mais de 80% dos brasileiros já estão equipados com telefone celular. Isso significa que, se quiser crescer, a operadora terá de “roubar” clientes da concorrente... E mais: a portabilidade numérica foi anunciada há um ano, o que deu às empresas tempo o bastante para se ajustarem à nova ordem.

INTERNET VELOZ
Anatel de olho na banda larga. Demorou!

Conselheiro da Anatel defende que, nas telefonias fixa e móvel, os sistemas de banda larga sejam tratados como serviço público, que, ao menos em tese, não pode sofrer interrupção. Demorou, mas a ficha caiu!

O conselheiro da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Plínio Aguiar, defende que a banda larga, atualmente classificada como SVA (Serviço de Valor Agregado), receba tratamento de serviço público. O argumento é irrefutável – a importância da banda larga já é maior até mesmo do que a da telefonia fixa: muita gente só dispõe de telefone celular. Mas ter acesso à Internet por linha discada, e não por banda larga, é praticamente impossível. Plínio, que participou do seminário “Alternativas para massificar a banda larga no país”, promovido pela Momento Editorial, especializada em publicações que defendem a inclusão digital, explica que a discussão a respeito está aberta há algum tempo, a pedido do Ministério das Comunicações. A idéia explica o conselheiro, é submeter o assunto a consulta pública, muito em breve, no portal da Anatel (http://www.anatel.gov.br/). Se ligue!

DIREITOS DO CONSUMIDOR
Defesa dos usuários ganha reforço. E daí?

O Ministério das Comunicações e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada ao Ministério da Justiça, agora têm assento no comitê. Resta saber se, agora, a coisa vai...

A nova configuração do comitê, publicada dia 28 de março, no Diário Oficial da União, depois de submetida à consulta pública durante todo o mês de outubro, mantém os representantes do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), também vinculado do Ministério da Justiça, e as entidades de classes dos serviços de telecomunicações (telefonia fixa, móvel, serviços de comunicação de massa, TV por assinatura e outros serviços). Ao mesmo tempo, amplia-se a participação da Anatel, mediante inclusão do ouvidor, do chefe da assessoria parlamentar e de comunicação, bem como do auditor interno, superintendentes de serviços (públicos, privados e de comunicação de massa) e assessores, quando convocados, em função da pauta. Antes, a Anatel estava representada no comitê, tão-somente, pelo conselheiro-diretor da agência (presidente), o chefe da Assessoria de Relação com Usuários (ARU), o procurador-geral e o superintendente-executivo.

Os nove representantes de instituições, públicas e privadas, são escolhidos por meio de edital, publicado pela Anatel, e têm como função assessorar e fornecer subsídios ao conselho diretor em matérias que digam respeito a controle, prevenção e repressão a atos que desrespeitem os direitos dos usuários. Também cabe ao comitê participar da formulação de políticas capazes de garantir aos consumidores de serviços de comunicação acesso à informação e conscientização quanto aos próprios direitos.

A representatividade da própria Anatel no colegiado também foi reforçada com as inclusões do ouvidor, do chefe da assessoria parlamentar e de comunicação, do auditor interno e dos superintendentes de serviços (públicos, privados e de comunicação de massa) e assessores, quando convocados, em função da pauta. Já integravam o comitê: um conselheiro-diretor da agência (como seu presidente), o chefe da Assessoria de Relação com Usuários (ARU), o procurador-geral e o superintendente-executivo.
CRISE
Telefônica demite 800 pessoas


O que já é ruim pode ficar pior. Os serviços de instalação e manutenção das redes de fibra óptica, assim como da rede da rede interna, serão executados por empresas terceirizadas – em tese, sem a mesma motivação em termos de qualidade.

Começa dia 4 de abril, sexta-feira que vem, o programa de demissões pelo qual a Telefônica pretende cortar cerca de 800 funcionários. A previsão é de que, no dia 14, os processos de demissão já tenham sido concluídos.

Os serviços até aqui executados por funcionários contratados pela espanhola serão agora de responsabilidade de um grupo de empresas. A Ericsson ganhou a concorrência para instalação e manutenção da rede de fibra óptica, enquanto a NEC e a Nortel assumem os serviços de manutenção da planta interna de telefonia. A instalação e a manutenção da rede de dados são tarefas entregues a um conjunto de prestadores de menor porte, que já faziam o serviço e tiveram os respectivos contratos ampliados.

As demissões contarão com um plano de benefícios de até dez salários em prêmio, dependendo do tempo de casa de cada funcionário dispensado. A expectativa é de que as demissões envolvam algo próximo a 60 milhões de euros, ou R$ 150 milhões, segundo projeção feita pela matriz. “Muito pouco para fazer estancar a sangria financeira que não poupa nenhuma empresa de telefonia fixa, muito menos, a Telefônica”, confidencia um alto executivo da própria operadora.

INDÚSTRIA
Motorola se divide em duas


Conforme é de praxe entre as multinacionais, a empresa não esclarece o que acontecerá com a operação brasileira. Extra-oficialmente, sabe-se, porém, que, aqui, lá e em todo lugar, a ordem é apertar os cintos.

A decisão de dividir a empresa em duas – uma dedicada à fabricação de telefones e outra à tecnologia de banda larga – se destina a sanear as finanças, valorizar os papéis em bolsas e proteger o investimento dos acionistas. Mas não deve ser isolada. “A crise norte-americana e a própria situação financeira difícil, que obriga as operadoras brasileiras a reduzirem os investimentos, devem inspirar novas medidas, na Motorola, que deve puxar o freio de mão e apertar os cintos”, projeta um consultor especializado em telecomunicações.

INVESTIMENTO
SmartTrust vem com tudo


Ruim pra alguns, ótimo para outros. A SmartTrust, especializada em tecnologia aplicada a comunicações móveis e com representação no Brasil desde 2002, está inaugurando escritórios no Rio de Janeiro e Buenos Aires.

O que motivou o investimento foi o “resultado fantástico” que a empresa obteve na América Latina, no ano passado, conta Roberto Batista, nomeado diretor de vendas para América do Sul, com base plantada em São Paulo. A ele cabe, também, supervisionar o escritório carioca. Na Argentina, o homem forte é Eduardo Erdini. Gerente regional de vendas, ele ficará em Buenos Aires.

FUSÃO Oi/BrT
Finalização pode demorar

Múltiplos interesses, inclusive dos investidores Citigroup e o Opportunity amarram a operação, cuja conclusão pode levar mais 70 dias.

No fechamento desta edição de VIVA-VOZ, a Oi publicava no site de Relações com Investidores, que as negociações relativas à compra da Brasil Telecom (BrT) continuavam, mas sem conclusão. “Não se chegou a um acordo sobre os termos da operação e não foi firmado, ainda que em caráter preliminar, qualquer documento entre as duas empresas”, dizia o comunicado.

A previsão era de que houvesse um acordo até dia 3 de abril, quinta-feira, coisa com a qual executivos da própria Oi não contavam, considerando a extensa lista de acertos, de maneira a cumprir os trâmites legais que a operação exige.

O primeiro grande obstáculo, entretanto, aparentemente, foi removido na última quinta-feira, dia 27 de março, quando o Citigroup e o Opportunity decidiram celebrar a paz, encerrando as disputas. Depois de aprovada a operação de compra, Oi e BrT tem mais dois meses e meio para finalizar a transação, prazo dado pelas autoridades.
CORREIO ELEGANTE

PARABÉNS pela nova iniciativa do Viva-Voz. O trabalho está fantástico. Quero aproveitar para pedir esclarecimentos sobre a decisão do governo de obrigar os canais de TV por assinatura a exibir um percentual absurdo de programação nacional. Como muitos outros, é claro, prefiro continuar a ter acesso à programação original estrangeira sem restrições. De outro modo, cancelo minha assinatura no minuto seguinte que essa imposição se tornar oficial. Nada me fará pagar para ver programas do tipo dos que são veiculados por Globo, Record, etc... Acho que canais como GNT, Futura e Brasil, por exemplo, atendem com sobras o interesse dos assinantes mais nacionalistas. Grande abraço. Cleber Corrêa da Silva, professor, João Pessoa, PB

CARO
professor Cleber, muito obrigada pelos cumprimentos. Quanto à ingerência do governo na programação das TVs por assinatura será objeto de matéria jornalística na próxima edição de VIVA-VOZ. Aguarde. Abraço. LHC, editora

QUE maravilha esse blog! Já era tempo de alguém, com a sua habilitação, Lucia Helena, jornalista da área, tomar uma atitude contra essas operadoras. Parabéns! Ana Cristina de Andrade, pedagoga, Rio de Janeiro, RJ


Sobre o VIVA-VOZ

VIVA-VOZ é atualizado semanalmente.

VIVA-VOZ, sem rabo preso, não tem filiação partidária. Também não professa qualquer tipo de religião. Ideologia? Somente a da liberdade. A liberdade dizer o que se pensa. De defender o legítimo direito à indignação. Às vezes, a indignação é a única coisa que nos resta...O conteúdo de

VIVA-VOZ pode e deve ser reproduzido, copiado, clonado, pirateado, repassado... A editora apenas agradece a citação da fonte!

VIVA-VOZ aceita anúncios. Se o anunciante tiver coragem... Por que não?

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Correspondências para VIVA-VOZ, desde sugestões de pauta (press releases) até denúncias, para fins de publicação, devem ser enviadas para luciahelenacorrea49@gmail.com, com nome, por extenso, e-mail e telefone do remetente.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Nesta Edição

EDITORIAL
A voz de todos nós

POLÍTICA
...E a praga das fusões continua...
Com a cumplicidade das autoridades.

DATA VENIA!
Conheça, decore, divulgue e faça valer seus direitos!




EDITORIAL
A voz de todos nós

Sempre suspeitei de que um blog assim tinha enorme chance de bombar. Mas não poderia imaginar que fosse tão grande a receptividade. Em uma semana, foram mais de 30 mensagens de boas vindas e parabéns, entre e-mails, telefonemas e comentários postados no próprio VIVA-VOZ. Nesse caso, os registros são em minoria. Aparentemente, as pessoas não gostam de lidar com a ferramenta do blog que permite postar comentário. E têm razão: dá muito pau... Elas preferem o e-mail ou o telefone à Internet.

VIVA-VOZ recebeu o apoio até mesmo de executivos e jornalistas (assessores de imprensa), a serviço das próprias teleoperadoras, cansados de administrar as crises geradas pela má gestão. Isso gratifica a jornalista que lhes fala, claro. Mas também é triste, porque torna flagrante a insatisfação das pessoas com os serviços de telecomunicações neste país.

De qualquer modo, venham de onde vierem, seja qual for o canal utilizado, VIVA-VOZ agradece a todos e reafirma, aqui, o compromisso de dizer, sempre, aquilo que 180 milhões de brasileiros gostariam de gritar. “Operadoras, se liguem, que a gente já está de saco cheio!”

Lucia Helena Corrêa
editora
POLÍTICA
...E a praga das fusões continua...
Com a cumplicidade das autoridades.

Nem mesmo os caranguejos andam para trás. Andam para o lado. Mas a política brasileira de telecomunicações, essa sim, não pára de caminhar em marcha à ré. Ladeira abaixo.

Quem tem memória há de se lembrar. Em 1998, o governo Fernando Henrique Cardoso, no esforço para nos convencer de que era preciso privatizar os serviços de telecomunicações, prometeu maior quantidade de linhas, qualidade e preço baixo. Conforme vimos na edição inaugural de VIVA-VOZ, ele e o governo que se seguiu não honraram sequer uma das promessas (leia, aí embaixo, “Dez anos de privatização. E daí?”).

E por quê? Por uma razão simples: o principal ingrediente desse bolo chamado quantidade/qualidade/preço -- a concorrência -- não entrou na receita. Por uma série de desmandos e uma tremenda politicagem, as empresas-espelho, que seriam criadas nas principais capitais, a partir de 1999, para fazer frente às telcos formadas no ato de loteamento e venda do extinto sistema Telebrás, nunca saíram do papel.

Deu no que deu. Em São Paulo, a Telefônica (Teleafônica) faz o que quer e bem entende... A suposta concorrente consegue ser pior do que a espanhola. A Embratel/NET? Quem é que pode?As pessoas continuam reclamando do péssimo serviço embalado no pacote NET Combo. Você tem de escolher: Internet ou telefone... A imagem da TV, vira e mexe, congela, toda granulada! Skavuska!

De Norte-Nordeste ao Rio de Janeiro, a antiga Telemar (Telemal), agora rebatizada de Oi (Tchau!) idem: vai de mal a pior. Depois de morar em João Pessoa, para onde a Embratel me mandou faturas de interurbanos com oito meses de atraso e... multa!, fiquei dois anos no Rio de Janeiro, antes de voltar para São Paulo. Isso foi há seis anos. Pois bem: um ano atrás, a Telemar ainda me mandava uma conta que eu já pagara. Quem é que pode? Que sistema de billing é esse, pelo amor dos deuses? Ainda sobra a Telemar: em João Pessoa, após 15 dias sem Internet e sem telefone simultaneamente (eu tinha de escolher uma coisa ou outra), os engenheiros se mudaram pra minha casa, a fim de tentar resolver o problema. Não conseguiram. Mesmo depois de trocar até o poste!

Dias depois, num evento comemorativo do Dia Internacional da Mulher, antes de começar a cantar (eu estava lá para isso, e não como jornalista), usei o microfone e alto-falantes para avisar às quase cinco mil mulheres ali presentes que não comprassem o produto em promoção numa barraquinha montada pela Telemar. Ninguém comprou...

Não tem jeito: o fermento da qualidade é a concorrência. Mas vejam só o que acontece. Em 1998, as 54 empresas que integravam o sistema Telebrás (26 operadoras de telefonia móvel na banda A, 27 de telefonia fixa e a Embratel) deram origem a 12 holdings, em 99% dos casos de capital estrangeiro... Depois, ainda vieram as operadoras de telefonia móvel na banda B. Meia dúzia. Entre elas a BCP. Ai, que saudade da BCP... que virou Claro, pra nos deixar todos no escuro! Hoje, neste Brasilsão de meu Deus, as operadoras de telefonia fixa estão reduzidas a 8 (oito). As de telefonia móvel também são apenas 8 (oito).

Nas duas maiores regiões, segundo o mapa de telecomunicações, envolvendo 17 estados, Telefônica e Oi assumiram o monopólio absoluto nas respectivas áreas de cobertura... Deu no que deu...

Nacionalismo fora de hora

Em nome de um discurso nacionalista (que já brutalizou o Brasil em vários capítulos da História, da ditadura de Vargas, nos anos 30/40, à dos milicos, nas décadas de 60/70/80), não é de hoje que muita gente outrora “insuspeita” vem saindo em defesa da política de fusões. Um dos primeiros a levantar a lebre, em setembro do ano passado, foi o deputado federal Jorge Bittar (PT-Rio). Em artigo assinado na Folha de S.Paulo, em setembro do ano passado, ele prega a fusão da Oi com a Brasil Telecom, idéia que tramita no Congresso... Quem diria?

Mas há, também, o ministro Hélio Costa, das Comunicações, que usa o mesmo golpe baixo para argumentar a favor da política suicida das fusões. “Sou totalmente a favor de criar uma empresa nacional forte no setor, para competir com as multinacionais não só no Brasil, mas, regionalmente, na América Latina. Eu diria que há simpatia no governo em relação à proposta, e não vejo sentido na acusação de que seria uma reestatização”, diz ele.

Em economia, nacionalismo nem combina com neo-liberalismo... Sejam, pelo menos, coerentes!

O ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários e diretor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Ary Oswaldo de Mattos Filho, é quase uma voz solitária. “As empresas querem o oligopólio, com o que não haveria necessidade de um controle nacional nas telecomunicações. Caminhamos para um processo de fusões e aglutinações nos setores bancário, de telecomunicações e aviação. É a volta a um passado que levou o país à bancarrota”, adverte Mattos Filho, que presidiu a CVM de 1990 a 1992.

E cadê o Cade?! Lembram-se do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, a quem, em tese, caberia defender o saneamento do econômico, a bem do social? Cadê o Cade?!

Cadê o Cade que passou batido na compra da TVA pela Telefônica, que agora não consegue segurar a onda?! O serviço continua indo de mal a pior... Quando chove, sai do ar...

Quero ser pessimista, não... Mas acho que nós, ó... Com deputados e ministros que nem os nossos, quem precisa de imperialistas arrogantes, tal e qual os espanhóis na telefonia?

As águas correm pro mar...

Na telefonia fixa, que carece de concorrência, mas “dá pouco lucro e muita aporrinhação”, me confidencia o executivo de uma operadora, ninguém quer investir. Mas em telefonia móvel... Assim é que vem aí, para desembarcar em São Paulo, a Oi, com uma conversa sedutora: respeito aos clientes, materializada na campanha pelo desbloqueio. De novo, o que é obrigação (respeito) se vende como virtude, numa ruidosa e caríssima campanha de marketing. Conversa fiada de uma empresa que, todos sabem, nunca soube muito bem o que é isso: respeito aos clientes.

Lotes... Isso lembra alguma coisa?

Em edição moderna das Capitanias Hereditárias, no leilão promovido pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a Oi comprou o lote 7. A Vivo ficou com o lote 22, que integra os estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte. E vai, assim, operar no Nordeste inteiro. Mas também arrematou os lotes 12 e 13, o que lhe dá direito a operar em Minas Gerais. A Claro, que levou o lote 16, baixa em Londrina e Tamarana, no Paraná. E, igualmente, o lote 20, que agrupa Amazonas, Amapá, Pará, Maranhão e Roraima.

Os rios correm mesmo é pro mar... E nós é que nos afogamos...
DATA VENIA!
Conheça, decore, divulgue e faça valer seus direitos!

Toda vez que um jornalista reclama da má atuação da Anatel, ela se defende atacando. “Os assinantes também não fazem por onde conhecer os próprios direitos e, menos ainda, aprenderam a defendê-los.

Quem quer dar razão à Anatel? Se você não quer, comece visitando o site http://www.anatel.gov.br/ . Lá chegando, clique em Espaço do Cidadão, onde você encontra, resumidamente, aqueles que são os seus direitos de assinante. Por exemplo, conhecer previamente as condições de contratação, prestação e suspensão do serviço. Mas duvido que alguém aí tenha tido acesso ao contrato por iniciativa da operadora. Isso vale para os serviços de telefonia, TV por assinatura e acesso à Internet.

Mudar de plano de serviço, sem estabelecimento de prazo de vínculo (fidelização ou carência) e cancelar, a qualquer momento, o plano escolhido são outros dois direitos. Mas ambos vêm sendo desrespeitados em 99,9% dos casos. Agora mesmo, a Telefônica TV Digital, que não consegue reter o cliente com o honesto argumento da qualidade, tenta amarrá-lo por uma cláusula de fidelidade, segundo a qual, se a vítima resolver pedir a suspensão do serviço antes de 18 meses, paga multa de mais de 300 reais. Paga uma pinóia! O acordo não se sobrepõe ao que diz a Lei das Telecomunicações, que é soberana! Duvida? Fale com um advogado.

Vale a pena ler, salvar e decorar seus direitos. E, sempre que necessário, esgrimir com eles... Se liga!
MERCADO
Celulares avançam...

A telefonia fixa continua levando um verdadeiro banho dos celulares. O péssimo funcionamento dos sistemas fixos e a liberdade de ir e vir que os telefones móveis garantem, fora os planos bem mais flexíveis, são a causa da sangria...

A telefonia celular brasileira continua crescendo muito mais rapidamente do que a fixa, diz a Anatel. Em fevereiro passado, foram 1,2 milhão de novas habilitações, número 169,38% maior do que as 469,5 mil adesões registradas em igual período de 2007. A base nacional saltou para 124,1 milhões de assinantes, com crescimento de 1,03% em relação a janeiro. Do total de acessos, 80,87% são pré-pagos e 19,13% pós-pagos. A proporção se mantém praticamente a mesma desde 2004. No acumulado de 12 meses, as operadoras ganharam 22,9 milhões novos assinantes – crescimento de 22,67%.

A Oi e a Brasil Telecom, prestes a se unirem numa só empresa, avançaram em número de assinantes, ao contrário das demais, que perderam espaço. A Vivo manteve a liderança com 27,32%, contra 27,44% em janeiro. A TIM caiu de 26,1% para 26,06% em fevereiro. A Claro foi de 24,84% para 24,80% na mesma comparação. Banda larga movimenta R$ 2,3 bilhões. Quem diz é a E-Consulting. Em 2008, o número de brasileiros usando a tecnologia para fazer acesso à Internet deve passar de 11,5 milhões. Isso representará aumento de 35% em relação a 2007. O faturamento da indústria da banda larga promete chegar a 2,3 bilhões de reais, contra 1,7 bilhão no ano passado. Aí ficam as perguntas que não querem calar: E quanto à qualidade? Vamos, finalmente ter banda larga ou vamos continuar derrapando na banda lerda? Que parte, afinal, disso, será aplicada na melhoria dos sistemas, a fim de suportar o aumento da demanda?

Até o final de 2008, aproximadamente 44 milhões de pessoas estarão conectadas, independentemente do ambiente, dispositivo ou mídia. Dessas, espera-se que 26,1% tenham acesso à rede mundial por banda larga; ou seja, um total de 11,5 milhões de usuários. No ano passado, cerca de 38 milhões de internautas navegaram pela web, dos quais 8,8 milhões graças à tecnologia, o que equivaleu a 23,1% do número de usuários. Outra pergunta que não quer calar: quanto tempo mais será preciso para ligar, por banda larga, a totalidade dos internautas? Inclusão digital sem banda larga? Fala sério!

Terra conserva a dianteira

O provedor de acesso, com faturamento de R$ 767 milhões, manteve mantém na liderança do setor pelo quatro ano consecutivo. A receita de publicidade cresceu 31% em relação a 2006 e a audiência do portal outros 49%, contabiliza o diretor-geral, Paulo Castro. Com 2,4 milhões de assinantes, o Terra registra, em média, 23 milhões de visitantes únicos por mês.

Com tudo isso, o Terra bem que podia melhorar... Ninguém suporta mais, por exemplo, ter as mensagens presas na malha de um anti-spam burro de doer. Quem usa Terra e Yahoo sabe disso. Mas essa é uma conversa para desenrolar na próxima edição. Me aguardem!

Executivo na fita!

Rodrigo Terra é o novo gerente de marketing e comunicação do Terra (é muita terra!) . Com 12 anos de experiência nessas áreas, ele responde, agora, inclusive, pela coordenação de toda a comunicação com o consumidor. Isso inclui estratégias de marca, campanhas, mídia e relacionamento com os clientes e a DM9DDB, agência de publicidade do Terra. Formado em marketing pela Faculdade de Cidade, Rio de Janeiro, e com MBA Executivo da Fundação Dom Cabral, Rodrigo trabalhou no Unibanco, onde foi responsável pelas áreas de publicidade e mídia. Mas, também, na Telemar, Fininvest e Unibanco Seguros.

Boa sorte, moço! Você vai precisar!
CORREIO ELEGANTE (ou nem tanto...)

VIVA-VOZ está muito legal!
(Lis Rodrigues, compositora e intérprete, São Paulo)

SUCESSO em sua mais nova empreitada...
(Tânia Méliga, engenheira, é consultora de administração, com ênfase em qualidade, Rio de Janeiro)

QUE bom ouvir uma VIVA VOZ nesses tempos sombrios que vivemos! Suas colocações e análises são uma música em nossos ouvidos cansados de tanta baboseira na mídia. Parabéns. Já salvei em meus favoritos e lerei sempre, pode estar certa disso. (Elsio Ferrari, programador visual e webdesigner, São Paulo)

É isso aí: VIVA-VOZ do povo! (Ricardo Soares, analista de sistema, compositor e intérprete, São Paulo)

ESTÁ duca... Adorei esse blog! Parabéns! Mandei pro meu companheiro, que é um eterno indignado com o setor. Aliás, saiba que, somente porque não digitalizamos nosso sinal, a TV por assinatura diz que, agora, analógicos, não poderemos mais comprar programação pay per view. Ou seja, lá se vão embora as chances de assistir ao jogo Flamengo ou Fluminense na TV. Os times cariocas nunca estão na programação aberta para São Paulo. E lá em casa somos, eu, flamengo, ele, fluminense. Fla-flu? Nunca mais. (Verônica Couto, jornalista, São Paulo)

AI que raiva! Estou-me sentindo como o personagem do Michael Douglas em "Um dia de fúria". Mas, ao mesmo tempo, vingada como as personagens de Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer em "As bruxas de Eastwick! Parabéns, Lucia Helena. Sua indignação, como sempre, nos faz sentir justiçados. (Bárbara Napoleão, advogada, Rio de Janeiro)
Sobre o VIVA-VOZ

VIVA-VOZ é atualizado semanalmente. VIVA-VOZ, sem rabo preso, não tem filiação partidária. Também não professa qualquer tipo de religião. Ideologia? Somente a da liberdade. A liberdade dizer o que se pensa. De defender o legítimo direito à indignação. Às vezes, a indignação é a única coisa que nos resta...

O conteúdo de VIVA-VOZ pode e deve ser reproduzido, copiado, clonado, pirateado, repassado... A editora apenas agradece a citação da fonte!

VIVA-VOZ aceita anúncios. Se o anunciante tiver coragem... Por que não?

VIVA-VOZ aceita convite para coletivas de imprensa. Se os assessores de imprensa tiverem coragem... Por que não?

Correspondências para VIVA-VOZ, desde sugestões de pauta (press releases) até denúncias, para fins de publicação, devem ser enviadas para luciahelenacorrea49@gmail.com, com nome, por extenso, e-mail e telefone do remetente.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Nesta edição

EDITORIAL
Aqui, a bronca é livre!

Dez anos de privatização. E daí?


Cuidado: a Telefônica pode transformá-lo numa barata!


Pior do que roubar e não carregar é vender e não entregar.
Pergunte à NET Combo. Skavuska!

Editorial

Aqui, a bronca é livre!

"A dor da gente não sai no jornal..." (Luís Reis e Haroldo Barbosa)

Você está satisfeito com a sua operadora de serviços de telefonia, que, de vez em sempre, manda fatura errada ou corta o telefone mesmo com a conta paga? Supra-sumo da falta de respeito, ela oferece descontos generosos aos novos clientes e pune você, cliente antigo, com aumentos brutais? Você está feliz com a sua operadora de TV a cabo? Ela o deixa refém do Faustão e do Gugu domingos a fio, e, depois, com a maior cara de pau, envia a fatura cheia, sem devido desconto dos dias sem serviço? E o seu provedor de acesso à Internet? Ele costuma sair do ar bem no dia em que você precisaria terminar aquele trabalho urgente e cuja realização depende dela, da Internet? A banda larga mais parece banda lerda?

Você está satisfeito com os serviços de telecomunicações? Não? Nem eu! Pra falar a verdade, quase todos nós, brasileiros, temos muitas queixas presas na garganta. Queixas que os jornais e revistas, mesmo os especializados, não registram. Porque não querem ou porque não podem...

VIVA-VOZ chega para divulgar, com a máxima agilidade, precisão e honestidade, notícias relativas ao setor – na área da inovação tecnológica aplicada a produtos e serviços. No dia-a-dia, este blog fará um registro do que vai pelo mercado de telecomunicações. Um mercado, que, no Brasil, movimenta, por ano, milhões e milhões de reais e emprega milhares de trabalhadores.

Mas VIVA-VOZ quer ser, antes de mais nada, uma a tribuna livre. Aqui, eu, você, nós diremos da dor de ser consumidor de telecomunicações no país em que o governo desonrou a promessa feita quando queria nos convencer da necessidade de privatizar os serviços, dez anos atrás. A promessa de quantidade, qualidade e preço justo.

VIVA-VOZ grita a dor dos consumidores traídos. Consumidores que, na maioria das vezes, não têm a quem recorrer. A dor que, a exemplo do que diz a canção dos compositores Luís Reis e Haroldo Barbosa, imortalizada na voz de Chico Buarque de Holanda, positivamente, não sai no jornal.
Dez anos de privatização. E daí?

As empresas de telefonia, quase todas de capital estrangeiro, faturam alto no País. Mas, investem por ano, em média, menos de 10% do que ganham. Econômicas, ainda não cumpriram 100% a promessa de levar telefone a todos os brasileiros. E quanto a qualidade e preço justo... Fala sério!

Em 1998, o governo Fernando Henrique Cardoso, alegando que era preciso modernizar o setor, decidiu privatizar os serviços de telecomunicações no Brasil. Ante o timbre nacionalista (e démodé) dos críticos do neo-liberalismo, o argumento de FHC parecia fulminante. “A privatização vai permitir que se leve telefone mesmo aos lugares mais isolados deste país continental. Melhor: com qualidade e preço bem mais acessível”, ele prometia.

A privatização veio... O então sistema Telebrás, integrando a totalidade das empresas que operavam nos Estados, foi vendido pela bagatela de R$ 22,2 bilhões. A quantia não chegou a representar 10% dos investimentos realizados pelo sistema no período de 1993 a 1997.

Capitanias Hereditárias...

Os norte-americanos, espanhóis e portugueses lotearam as telecomunicações no Brasil. Assim se reeditou, nas telecomunicações, o modelo das Capitanias Hereditárias. As mesmas pelas quais, no século XVI, a Coroa de Portugal doou grande parte das terras brasileiras a umas poucas famílias, do Norte-Nordeste ao Sudeste. As mesmas latifundiárias de hoje. Só mudam as moscas...

A Embratel, que declara receita líquida de US$ 3,5 bilhões no ano passado, engordando a fortuna do mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do planeta, na privatização, foi arrematada por apenas US$ 650 milhões. A Telemar, que agrupou 16 operadoras, do Norte-Nordeste ao Sudeste, única a permanecer em mãos do capital nacional, ficou com a família Jereissati, do Ceará, que, curiosamente, pagou apenas 5% do valor mínimo apregoado no leilão. Em 2007, a Telemar, rebatizada de Oi, faturou perto de US$ 5 bilhões. Na lista das mais bem-sucedidas, figura logo abaixo da Telefônica, com receita líquida de US$ 7,1 bilhões.

Na festa da privatização, o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, afilhado político de Antônio Carlos Magalhães (que Olorum o tenha...), assumiu o controle de algumas empresas, apesar de não entender nada do riscado e ter criado as empresas holding às vésperas da privatização. Daniel Dantas acabou em bocas de matildes, envolvido na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou (sic) fraudes no setor, sujeira boiou saída do mesmo esgoto de onde veio o escândalo do “mensalão”. A CPI acabou em pizza. E os Dantas continuam cada vez mais ricos...

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), acusado de dar uma de muquirana na hora de financiar as empresas nacionais, sobretudo as de pequeno e médio portes, foi de uma generosidade inexplicável com os loteadores do sistema Telebrás. O banco transformou em regra geral o que devia ter sido apenas exceção, aplicada em casos extremos: comprar ações dos grupos então formados, para garantir a execução do projeto privatização, que, convenhamos, não pára de fazer água...

E nós... top... top...

O que é que nós lucramos, nestes dez anos? Não sei você. Mas eu, pessoalmente, somente um dos Prêmios Imprensa Embratel que ganhei. O primeiro, acredite, eu levei descendo a lenha na própria – a Embratel –, com a reportagem “Agora, só nos resta torcer”.

Não adiantou torcer. Logo no primeiro ano de privatização, nos Procons, Brasil afora, as operadoras de serviços de telefonia assumiram o primeiríssimo lugar no ranking da bronca. Um lugar que sempre pertencera às lojas de móveis e eletrodomésticos. E nunca mais saíram de lá. Em janeiro, segundo o placar estampado no portal da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que publica a baixaria, mas não faz nada!, em telefonia fixa, no mês de janeiro, a Embratel do ricaço mexicano e a espanhola Telefônica eram as campeãs da reclamação.


As operadoras, assim como a descansada da Anatel, reconhecem que, em matéria de qualidade e preço, ainda é longo o caminho a percorrer. No caso específico dos preços, o vilão, desculpam-se, são os impostos, que oneram em 45% o valor das faturas que pagamos. Mas costumam dizer, com a maior sem-cerimônia, que a promessa da universalização (de levar telefone a todos os cantos do País) foi cumprida. Afinal, argumentam, são quase 140 milhões de telefones fixos – cerca de 74 por grupo de 100 habitantes.

Isso é verdade? Só até a segunda página. Em bairros de enorme densidade populacional, no coração da maior cidade da América Latina, São Paulo, é possível caminhar quilômetros sem encontrar um “orelhão”. Caso das comunidades de Paraisópolis, Heliópolis e Piraporinha, terra essa da criativa e poética Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia). O que dizer, então, das cidadezinhas que acompanham o leito dos rios São Francisco e Amazonas? Que universalização é essa? Universalização... Fala sério!
Cuidado. A Telefônica pode transformá-lo numa barata!

Sem concorrência, a Telefônica se supera na falta de respeito. E leva os assinantes a se sentirem como legítimos personagens de Franz Kafka. No livro “A Metamorfose”, quando Gregor Samsa acorda, verifica que virou uma barata! Joseph K., no romance “O Processo”, do mesmo autor, é preso e condenado sem saber o porquê.

No mês de novembro, metade do qual passei hospitalizada, a Telefônica me apresentou uma fatura de valor superior a mil reais... Pedi a uma empresa especializada em auditoria de contas telefônicas para verificar a minha, item por item. Mas, para não ficar sem o serviço, concordei em pagar, solicitando, porém, o parcelamento. Mais de dois meses depois, no fechamento desta primeira edição de VIVA-VOZ, as faturas ainda não haviam chegado. E eu não conseguia baixá-las da Internet: o site da Telefônica não funciona! Por que não vou a uma loja da Telefônica? Porque não existem lojas da Telefônica para esse tipo de atendimento! E a Anatel deixa que não existam... Se você não resolver pelo telefone ou pela Internet, dançou...

Sem acesso às parcelas, não tive como pagar. Por falta de pagamento, meu telefone foi cortado por três vezes... Nas três ocasiões, o serviço se restabeleceu apenas quando recorri à assessoria de imprensa e mandei e-mails diretamente para os diretores da Telefônica. Aí fica aquela pergunta que não quer calar: o que faz o cidadão sem ninguém capaz de socorrê-lo? Em vez de me deixar feliz, a deferência me irrita ainda mais.

Suprema loucura? Descobri que quem pede parcelamento fica impedido de ligar para celulares e fazer interurbanos, coisa que, definitivamente, ninguém lhe conta, quando você faz a solicitação. É isso: parcelamento é coisa de pobre. E pobre... já sabe... pau nele!

Paciente renal com graves complicações, de vez em quando, tenho de falar com meus médicos pelo celular. Assim, pedi que suspendessem a restrição, inclusive porque, sem ter recebido as faturas, o acordo de parcelamento não chegara a se configurar. Qual não foi a minha surpresa! Na Central de Atendimento a Clientes, a atendente, uma debochada cheia dos usuais gerundismos, disse que não era possível “estar voltando” atrás, porque, afinal, eu já pagara, dia 28 de fevereiro, a primeira parcela! “Mas... como, se eu não recebi nenhuma fatura? Dia 28 de fevereiro, eu só paguei a fatura do mês, de 490 reais”, rebati. Ela, em tom irônico, insistiu que sim, que eu pagara a primeira parcela do acordo e... devia estar “confusa”. Quando comecei a esbravejar, a moçoila desligou!

Semana passada, a Telefônica deixou um recado no correio de voz do meu celular, confessando que houve, sim, um engano no parcelamento. Para compensar, iria deduzir a quantia da primeira parcela do valor que eu pagara, dia 28 de fevereiro, relativo à fatura mensal. A segunda parcela, a caminho, eles juram, eu só pagaria no dia 27 de março. E quanto aos 80% da fatura normal de fevereiro?, você perguntará. Estou perdoada! Acredite! Melhor: como a quantia paga era superior à da parcela, eu teria um saldo de cerca de 190 reais, a ser descontado no total “devido”. Mas continuo sem poder ligar para celulares ou números fora de São Paulo, capital. Parcelamento é coisa de pobre... E pobre... já sabe... pau nele!

Socorro! Eu virei uma barata!

Escuro, Morta e TIMganei...

Os nomes com os quais os brasileiros rebatizaram, respectivamente, Claro, Vivo e TIM estão perfeitos... Hoje, no Brasil de 180 milhões de habitantes, os celulares habilitados somam cerca de 120 milhões. Desses, mais ou menos 80% são pré-pagos, “coisas de pobre” e que, por isso mesmo, não funcionam direito. Pra quê, não é? Aos clientes pré-pagos só resta aceitar a afronta das campanhas publicitárias convidando-os a "migrar" para a terceira geração dos celulares... a tecnologia 3G... Se com ela os telefones falarem...

Em São Paulo, capital, e pelo Brasil afora, nas comunidades pobres, os usuários de celulares pré-pagos convivem com a falta de sinal. E não dispõem sequer de lojas da Claro, TIM ou Vivo às quais possam recorrer para resolver problemas técnicos. “Nem Claro, nem Escuro. Nem Vivo, nem Morto...”, diz a bem-humorada e justa reclamação estampada no blog do poeta Sérgio Vaz, criador da Cooperifa (http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/), plantada no coração da populosa comunidade de Piraporinha.

Você mora em São Paulo e tem celular pré-pago? Quando visitar o Rio de Janeiro, experimente ligar para casa? Se conseguir, ganha, como prêmio, o suficiente para comprar Claro, TIM e Vivo só pra ter o prazer de botar fogo...

Minha filha mora no Rio de Janeiro. No fechamento desta edição de VIVA-VOZ, estava aqui, em São Paulo, com o telefone TIM carregado e ligadinho, ao meu lado. Eu, do meu pré-pago, igualmente TIM, experimentei chamar o número dela. Resposta: “Esse número de telefone está programado para não receber ligações”... Minha filha, ligando do telefone dela para o meu, teve a mesma resposta. Pobre não precisa fazer roaming... Inaceitável!

No ranking da incompetência publicado pela Anatel, em telefonia móvel, no mês de janeiro passado, a liderança absoluta coube à CTBC, ou Triângulo Celular, seguida da TIM, em segundo lugar. A única empresa sobre a qual não pesava sequer uma reclamação era a gaúcha Sercomtel Celular, situação que durava quase um ano! Prova de que é possível, sim, tratar os clientes com respeito.

TV por assinatura. Quando chove...

Quem é que viu aquela peça de teatro “Se chovesse, vocês estragavam todos”, crítica contundente aos tempos de ditadura militar, escrita por Clóvis Levi e Tânia Pacheco? O título serve como uma luva à Telefônica TV Digital.

A espanhola comprou a TVA, que, bem ou mal, funcionava. Hoje, com a Telefônica TV Digital, vende um serviço que sai do ar sempre que chove mais forte. Não dá nem pra dizer que se trata de sistema à base cabos, eventualmente prejudicados pela água da chuva. A Telefônica TV Digital é operada por satélite... Pode? Quem é que pode com uma TV por assinatura que sai do ar cada vez que chove? Fala sério!

Mas... acontece comigo! Dia 26 de fevereiro, uma terça-feira, comprei o Trio Telefônica, pacote que embala telefone+Internet+TV por assinatura. A Internet, uma hora depois, já rodava à velocidade de 1 Megabyte, mas ainda incrivelmente lenta nos horários de pico... A TV a cabo só chegou em 11 de março, 14 dias depois de feita a adesão (a empresa marcou a instalação para uma semana depois, mas não veio e remarcou...). No fechamento desta edição de VIVA-VOZ, dois dias depois de a TV por assinatura ter sido ativada, eu conseguira assistir à programação por apenas oito horas, se tanto...

Dia de chuva, você quer ficar em casa namorando... Aí, reúne o kit libido: namorado, cobertor, pipoca e... filmes do Telecine... Mas... cadê? A Telefônica, que estraga com a chuva, decide aguar o seu programa... Só quero ver se a fatura virá sem o desconto dos dias em que não havia sinal, como é o meu, o seu, o nosso direito...

Em tempo: a Telefônica me vendeu o Trio por um preço bem superior ao cobrado dos novos clientes. A exemplo do que fazem quase todas as operadoras, de telefonia, acesso à Internet ou TV por assinatura, aos novos clientes, tudo, aos antigos... pau neles!

Pior do que roubar e não carregar é vender e não entregar. Pergunte à NET Combo... Skavuska!

Você não vai acreditar! Logo assim que a Embratel comprou a NET, veio com tudo para São Paulo (claro: este é o maior mercado de consumo da América Latina...). Eu, como todo cristão e não-cristão residente em Sampa, doida pra ver a Telefônica pela costas, pensei em comprar o tal pacote. E comprei! Instalaram a TV a cabo e, pasme!, não puderam ativar o sistema de acesso à Internet por falta de infra-estrutura no meu bairro! Pode? No Brás, a NET Combo vende e não entrega! Skavuska!

Pobre Brás, já tão humilhado pelas empresas de supermercados, que esnobam um dos bairros mais tradicionais e populosos da cidade. Pobre Brás, sem hospitais, praças, escolas, policiamento, iluminação e transporte coletivo decente... Pobre Brás onde o Itaú, na agência da Rangel Pestana, fecha os caixas eletrônicos às 16h e 30min, com medo de assaltos... Aqui só tem ladrão... Pior só nos bairros da periferia. Lá, não há caixas eletrônicos do Itaú e nem de qualquer outro banco... Pobre Brás, alvo do calote da NET Combo... Skavuska! Pobre Brasil, refém das empresas de TV por assinatura...

Mas... pensando bem... foi melhor assim. A Telefônica é o fim do resto. Mas a NET pode ser ainda pior: em alguns lugares, se funciona o telefone, não funciona a Internet; se funciona a Internet, não funciona o telefone... Já pensou?

Banda larga ou banda lerda?

De uns dias para cá, na hora de navegar, seu sistema fica lento? A banda larga mais parece banda lerda? Não tem erro: seu provedor deve estar preparando o terreno para lhe oferecer um outro pacote que vai lhe permitir navegar com muito maior rapidez. Mais caro, claro!

De todos as malandragens, a que se dá na área do acesso à Internet é, talvez, a maior... Até bem pouco tempo atrás, embora os provedores de acesso Internet de uso gratuito fossem mais eficientes, quem quisesse fazer acesso à Internet por banda larga tinha de pagar, além da conta de telefone, a fatura do provedor de acesso. Um Terra, um UOL da vida. Provedor gratuito só para o acesso discado, no ritmo de uma lesma paralítica. As operadoras de telefonia eram proibidas de oferecer o serviço. Assim, a Telefônica, por exemplo, na venda do Speedy, já sugeria o serviço de uma de suas... “parceiras”. Agora, graças a recursos à Justiça, em São Paulo, a Telefônica pode embalar, no pacote Telefônica Trio, telefone+Internet+TV digital.

Teoricamente, enquanto as chamadas autoridades não voltarem atrás (coisa pela qual os tradicionais provedores estão torcendo), quem compra o Trio Telefônica pode dar as contas do Terra, do UOL etc... e ficar apenas com os sistemas de acesso gratuitos. Por exemplo, Gmail, que funciona bem. Ou Yahoo, não por acaso, rebatizado, de Yarruim. Não precisa mais pagar um provedor. A idéia é boa. Mas... e a execução? Será que essa história de a Telefônica vender tudo vai dar certo? Duvido. Não vai dar certo por uma única razão: a Telefônica não está comprometida com o respeito aos clientes. E não está por uma razão simples: não tem concorrente.

Em resumo, em 1998, acabaram com o monopólio estatal nas telecomunicações e instituíram, nas regiões, o monopólio privado. Com sotaque norte-americano, espanhol e português... Capitanias Hereditárias também nas telecomunicações... Fala sério!

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