sábado, 18 de maio de 2013

Da próxima vez que eu me apaixonar...(*)

Da próxima vez que eu me apaixonar – visto que a paixão, essa, não sei, não posso e não quero evitar – vou ser bem mais cuidadosa.

Pra começar, nada de juras de amor eterno, dessas que, depois, quando o coração se esvazia, nos envergonham pela mentira contada. Tudo bem que se trata de mentirinha previsível e, quase sempre, inevitável. O que fazer, afinal, a não ser jurar, quando, no calor da festa, o amante nos cobra a promessa de amá-lo para sempre? O problema é que a gente acredita... o outro acredita... e, quase sempre, o estrago é devastador. Para sempre é muito tempo! É a vida toda! No balanço de perdas e danos, desonradas juras de amor são como quando se descobre que o tesouro enterrado no fundo do quintal não está mais lá... Nunca esteve!

Da próxima vez que eu me apaixonar, seremos apenas ele e eu! Nada mais de amigos, filhos, pai, mãe... A história dele? Não quero saber! A minha? Não lhe interessa saber! Um dos mais sagrados riscos da paixão é a cruel lembrança dos almoços de família. São “as tardes alegres com nossos amigos”, aquelas de que fala o Erasmo? Ah, como doem os costumes... Ah, e como dói o abandono dos amigos que com ele se vão! Azar o meu, se guardei só pra mim esta imensa ferida e, ao contrário dele, não a expus em praça pública, à piedade de todos. Coitado dele! Maldita seja eu!

Da próxima vez que eu me apaixonar, nada mais de conversas ao pé do ouvido, vinho branco, luz de vela e lençóis de seda. Na hora do amor, não passaremos do sofá da sala de estar. Plena quarta-feira, a sonoplastia será a irritante voz do Galvão Bueno, transmitindo Flamengo e Vasco! Brochante? Pode ser... Mas o risco de brochar é menor do que a dor da canção que, depois, nunca mais se pode esquecer. Nunca mais se pode ouvir sem chorar...

Da próxima vez que eu me apaixonar...

(*) da série “Escritos Femininos” – prosa poética, no prelo

quarta-feira, 8 de maio de 2013

PSC. DE DAR NOJO...


Partido do IN-Feliciano copia a asquerosa TFP. É a história se repetindo... Nós vamos deixar?

Quem disse que a história não se repete? A campanha ontem deflagrada na mídia TV pelo PSC (Partido Social Cristão), legenda do psicopata Marco IN-Feliciano, e que desenha “a família de verdade”, é a ação requentada da velha e asquerosa TFP (Tradição, Família e Propriedade) ou Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, organização católica, tradicionalista e conservadora, fundada em 1960, pelo jornalista católico Plínio Correia de Oliveira, deputado federal Constituinte em 1934. 

A TFP esteve metida até o pescoço no golpe militar de 1964, tendo patrocinado a tal Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que, organizada pela Liga das Senhoras Católicas (cruz credo!), ajudou a depor o presidente João Goulart, em março de 1964.  A TFP, essa verdadeira barata, capaz de resistir até mesmo ao mais devastador dos bombardeios atômicos, está mais viva do que nunca, e é o que existe a pior em matéria de reacionarismo. A TFP, defensora da propriedade segundo o modelo das Capitanias Hereditárias, é radicalmente contra a reforma agrária e também se coloca contra tudo e todos que não respeitam o figurino social e religioso mais preconceituoso e excludente. O direito ao divórcio e ao aborto, por exemplo, ao mesmo tempo em que, se não defende a pena de morte, também, não a repudia, como o faria qualquer cristão. Pior, a TFP abomina os divorciados e homossexuais, entre outros grupos sociais. 

Coisa mais repugnante impossível! Ou não! A campanha do PSC reproduz o modelo da TFP e tem até uma versão piorada do Plínio Correia de Oliveira – esse monte de lixo chamado Marco IN-Feliciano. O texto, subliminar, não assume, com clareza, a oposição à união entre pessoas do mesmo sexo e o direito delas, de se casarem legalmente e adotarem filhos. Mas, usando a voz e a imagem, de costas, de um menino, diz que “família de verdade” são pai, mãe, avó, avôs e tios.
Pura crueldade mental neste país de “os meus, os teus e os nossos”, expressão criada para definir a família formada por casais que juntam, na mesma casa, crianças de um primeiro, segundo, terceiro...  casamento. Como se sentirá o filho de pais separados ou de casais homoafetivos, ao ouvir uma barbaridade dessas? Vai concluir que a família na qual ele se insere e é feliz não existe! Não é legítima... 

Ilegítimo é um partido, como esse hospício chamado PSC, que usa o nome de Deus para promover as coisas do diabo: o preconceito e a perseguição!  Esse PSC é um psicopata social dos mais perigosos... É a cara do pastor do demônio, Marco IN-Feliciano! É preciso ficar de olho nos passos do PSC! Mais do que isso, cabe às pessoas que ainda respeitam a democracia e a si mesmas NÃO ELEGER vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e, menos ainda, presidentes sob essa legenda do reacionarismo perverso! 

É PRECISO DIZER NÃO AO PSC! 

O contrário é dormir livre para amar quem quiser, estar com quem quiser, viver como quiser e acordar com todos esses e outros legítimos direitos cassados. Afinal, não são apenas as contas de poupança que os governos arbitrários, como do ex-presidente cassado, Fernando Collor de Melo, e da ministra da safadeza, Zélia Cardoso de Melo, costumam usurpar. Antes, terão subtraído, na calada da noite, nosso direito à liberdade e ao respeito, enquanto cidadãos e pessoas humanas.

Nós, eleitores, é que temos de ficar atentos e impedir que esses agentes do mal, canalhas profissionais, façam e desfaçam. Até porque, se depender do chamado Quarto Poder, a imprensa (que, no Brasil, está na mão de seis famílias, representantes todo-poderosas do status-quo), estamos vendidos... Dói reconhecer, porque, afinal, sou jornalista, mas a verdade é que, na grande mídia, o que vale é o poder do dinheiro. A receita de anúncios! Por que será, afinal, que a TV Globo, de repente, se calou sobre os desmandos do IN-Feliciano na Comissão de Direitos Humanos? Ora!, com certeza, para garantir a frequência na polpuda programação de mídia das agências de publicidade do PSC. Em outras palavras, a inserção de dois anúncios nos intervalos da novela das 21 horas. É muita grana na conta do Plim-Plim!

Nós já devíamos ter feito alguma coisa. Desde que aqui aportaram os primeiros invasores europeus, que, ainda hoje, roubam e matam os verdadeiros donos desta terra... Não fizemos nada...  e lá se vão 513 anos de saque e usurpação de direitos e bens. Mas sempre é tempo de começar a faxina! Aqui vale a máxima que se aplica ao futebol: quem não faz leva!


sábado, 27 de abril de 2013

JOAQUIM ANTÔNIO DA SILVA CALLADO... MEU TETRAVÔ!

JOAQUIM ANTÔNIO DA SILVA CALLADO...
Não caibo em mim de tanto orgulho!


... e não é pra menos: acabei de abrir, e já estou lendo e ouvindo a lata que reúne, além de livro biográfico, os cinco CDs que carregam, rigorosamente, todas as mais populares peças compostos pelo meu tetravô, Joaquim Antônio da Silva Callado Junior, “o pai do chorinho e dos chorões” – valsas, polcas e chorinhos. Peças interpretadas por músicos que viveram ou ainda vivem nestes nossos tempos, entre eles, Altamiro Carrilho, Hermeto Pascoal e Sivuca.

No auge da produtividade, quando ainda ia completar 32 anos, dia 20 de março de 1880, lá se foi Antônio Callado, vítima de meningite – causa mortis oficial, porque há fortes rumores de que alguma mulher abandonada ou marido ciumento lhe teria envenenado a flauta... Talvez, o preço pago por ser um homem negro, bonito até não caber em si e desfrutando de livre circulação nos meios imperiais, “atrevido” a ponto de se apaixonar por Chiquinha Gonzaga, moça de pele branca e não fazer qualquer segredo disso. Para ela é que compôs “Sedutora”, gritando o sentimento “proibido” aos quatro ventos de uma sociedade racista até a medula! Sujeito corajoso esse meu tetravô!

Viveu pouco meu vô Quinzinho. Mas viveu intensamente e o bastante para criar um acervo riquíssimo, que revolucionou a música brasileira, partindo das valsas e polcas, trazidos pela Colônia e o Império, para chegar ao chorinho, um dos gêneros mais genuinamente nacionais, irmão do samba nos mais diferentes sabores. Um gênero, a princípio condenado pela burguesia, como “coisa de negros”...

Antônio Callado, flautista, pianista e compositor criativo, não fazia por menos: entre outras coisas, inventou a técnica pela qual ele, tocando apenas uma flauta transversal, dava ao ouvinte a impressão de que eram duas... Um gênio, o autor de “Flor Amorosa”, que compôs em parceria com Catulo da Paixão Cearense, autor da letra!
Mas é apenas a genialidade musical desse meu ilustre ancestral que me emociona e enche de orgulho. Há, também, segundo reconheço nele – subjacente no texto que apresenta a coletânea produzida pelo Centro Cultural Banco do Brasil e patrocinado pelo Ourocard – o moço romântico, apreciador da poesia e a música, armas com as quais sonhava polir os valores da época, melhorar o mundo. Ou, pelo menos, com a espátula da arte esculpir as próprias, as digitais neste mundo. Conseguiu!

Antônio Callado, descubro, hoje, emocionada, amava a Marina da Glória, que admiro todos os dias, no protetor de tela do meu computador, a caminho da clínica de hemodiálise ou, quando me sobra alguma energia, na caminhada contemplativa... Um dos chorinhos por ele compostos chama-se “Lembrança do Cais da Glória”. A mesma Marina da Glória pela qual sou perdidamente apaixonada, que inspirou e virou personagem de muitos dos meus poemas...

Vô Quinzinho apreciava a vida! E eu, aqui, a ouvi-lo, sinto renovar-se em mim a vontade de insistir na vida... Dizer menos seria muito pouco...

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FICHA TÉCNICA
“Joaquim Callado – O pai dos chorões”, projeto elaborado e executado, com capricho e brilhantismo raros – neste país que tão pouco valoriza a própria cultura –, pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), encaixa-se no programa Arte Fato Produto Cultural e leva a assinatura de André Diniz (coordenador), Egeu Laus (projeto gráfico), Camilla do Vale Fernandes de Miranda, Clarice Zahar, Juliana Carneiro, Juliana Lins, Marcos Gomes (redação, edição e revisão) e Paul Barbosa (fotografias).

Obrigada a todos! Olorum os abençoe pela alegria que me proporcionam...

Lucia Helena Corrêa
Rio de Janeiro, abril de 2013


sábado, 20 de abril de 2013

HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DOS ESTADOS UNIDOS


Nada justifica o terrorismo, sobretudo, quando o alvo são civis inocentes. O ataque à Maratona de Boston foi uma brutalidade inaceitável, que recomenda, por si mesmo, a resposta rápida e enérgica do Estado, cujo papel principal é (ou devia ser) proteger o cidadão. Brilhante, pois, foi a ação da polícia técnica para chegar aos suspeitos. Coisa de seriado...

Mas... por que será que o espinho da desconfiança está espetando a minha cabeça, quando se trata dos dois "suspeitos" identificados pelos órgãos de segurança dos Estados Unidos? Quem os ouviu? Aliás, um deles, Tamerlan Tsarnaev, nunca mais poderá ser interrogado: morreu "em confronto" (sic) com as forças policiais. Mas... alguém aí ou lá, testemunhou a suposta troca de tiros? Dzhokhar Tsarnaev, o jovem ontem capturado, irmão daquele que foi morto, dizem, dentro de uma banheira nos fundos de uma casa, estava ensanguentado e carregava uma bomba. Mas... alguém viu?

Desde quando se podem apresentar como provas documentais bonés e mochilas desintegradas pela explosão e supostamente "restauradas" pela polícia técnica? Ora, não sendo de grife e, portanto. de uso restrito, podem andar por aí, na cabeça e nas costas de qualquer adolescente! 

Que parte das investigações e da indispensável coleta de provas (de verdade), documentais e testemunhais, eu perdi? 

Onde e quando teriam sido o julgados os irmãos chechenos, a não ser, sumariamente, sem direito a defesa, pelos órgãos de segurança norte-americanos?

Ou eu muito me engano ou, sob intensa (e justa) pressão dos cidadãos norte-americanos (paranoicos pela própria natureza, em especial, depois daquele tenebroso 11 de Setembro), dispostos a dar mais uma demonstração de força à comunidade internacional, os órgãos de segurança, desconfio, saíram em busca do culpado e, não o encontrando, podem muito bem ter forjado um; isto é, dois...

O que as autoridades e órgãos de segurança norte-americanos ignoram é que, além da satisfação que devem aos cidadãos, no sentido de lhes prover a integridade física e psicológica, dando combate ao terrorismo, também devem apresentar, de maneira clara, inequívoca e indiscutível, as provas de que os suspeitos são, realmente, culpados. Muito mais quando a curta história de vida dos dois rapazes não combina com a brutalidade da ação terrorista, segundo testemunho de parentes, professores e amigos. Sabe quando o milagre não combina com o santo? Pois é...

Aparentemente, o único "defeito" de Tamerlan e Dzhokhar é ser da Chechênia, e como todo imigrante nos Estados Unidos, inspirarem a mais completa desconfiança e, em casos extremos, a total inversão dos valores: "são culpados até que se prove o contrário", e, não, "inocentes até que se prove o contrário", conforme recomenda o bom senso e o respeito à pessoa humana. 

Bem lembrado: que é dos órgãos de defesa dos Direitos Humanos, que não cobram maior transparência nas ações do governo norte-americano?!  

Hum... sei não... mas, com a luxuosa conivência da imprensa, como sempre, há algo de podre no reino dos Estados Unidos, o que, diga-se de passagem, não seria, propriamente, novidade...  Não no país que sempre colocou o nacionalismo cego, porque fundamentalista, acima da segurança, da paz e da felicidade das pessoas. 


Rio de Janeiro, 20 de abril de 2013.

Lucia Helena Corrêa 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

RACISMO. A CRUELDADE MENTAL DAS PALAVRAS E GESTOS




“Tolerância” racial? Por que alguém tem de ser tolerante comigo porque sou negra?  

“Você é uma negra de alma branca”. Isso eu já ouvi dezenas de vezes. Inclusive de pessoas que se diziam minhas amigas – até que lhes chutei a canela, claro! 

“Na conversa ao telefone, nunca pensei que você fosse assim”, disparam os dissimulados de pouca inteligência, quando, finalmente, me encontram ao vivo e a cores.

“Não sei por que se aborrece tanto, se você, afinal, nem é tão negra assim...”, de vez em quando, dispara algum desavisado, tentando me aliviar deste meu “defeito”. Comparada a uma folha de papel, afinal, a criatura que me “elogia” não é tão branca assim... Mas ela se acha... 

Pior, porém, é quando, ao chegar a uma festa na qual sou a única pessoa negra, o dono da casa, “meu amigo”, larga aquele “atenção, meus amigos, que eu gostaria de lhes apresentar LHC, jornalista, poeta, compositora, cantora, uma pessoa de primeira linha”... Os outros todos são apenas o que são... E basta! O desfile público de tantas qualidades só aplica ao meu caso.  Não porque não exista na festa alguém com tantos e até mais “talentos”, mas, sim, porque, o coitado precisa justificar minha presença ali... É evidente que, se eu lhe disser isso, ele, com certeza, vai negar a agressão velada e tentar me desqualificar, chamando-me de paranoica. “Imagina...”

E é inútil tentar mostrar que, muito mais do que uma simples questão de semântica, as palavras, traiçoeiras palavras, carregam enorme e nem sempre disfarçável dose de preconceito. 

Na verdade, palavras e gestos, traiçoeiros, vivem prontos para saltar no meio do discurso “democrático”, estão aí para denunciar as pessoas que somente não assume o racismo, porque racismo é cafonice e elas não querem ser cafonas. Como aquele menino inconfidente que conta, em pleno elevador, o que é que os pais deles dizem da vizinha que acabou de entrar... Palavras e gestos traem a cafonice, que ninguém quer, porque, simplesmente, não combina com diploma de doutor e roupas de grife. Ou será que combina? 

Casos como o do pastor do diabo, Marcos IN-Feliciano, são raros. Além de racista, ele é mais burro do que o peru, ave natalina capaz de ficar presa, se a isolarem com um círculo de giz apenas riscado no chão. IN-Feliciano não tem superego – aquele cara que, segundo Sigmund Freud, fica puxando a cordinha e nos impede de fazer besteira. Muito mais do que racista, IN-Feliciano é louco. Tal e qual o eram Herodes, Nero, Napoleão, Hitler, Ozama Bin Laden. Tal é qual o é o louco da Coréia do Norte, Kim Jong-um... E IN-Feliciano está longe de ser o “maluco beleza” cantado pelo imortal Raul Seixas. Pelo contrário, IN-Feliciano é um louco superqualificado e perigoso, porque do tipo fundamentalista!

Mulata, moreninha, parda, marrom bombom... já ouvi de tudo. Mas há uma expressão que, muito mais do que todas essas, me incomoda demais: “tolerância racial”. E incomoda porque, feito o espião, o agente do mal, foi plantada nos movimentos ditos democráticos e neles virou espécie de palavra de ordem, vício de linguagem. E é assim em todos os movimentos pela defesa dos direitos humanos. De repente, lá está o líder do grupo defendendo que “é preciso haver tolerância racial, sexual, religiosa, blá blá blá”...

Tolerância? Tolerância uma porra! Por que alguém tem de ser “tolerante” comigo porque sou negra?  Por que eu deveria “tolerar” o homossexual, o judeu, o cristão, o budista, o muçulmano, o portador de deficiência física ou mental? 

Não é o caso de “tolerar” nada nem ninguém! Nós temos é de olhar as pessoas com o respeito que todas merecem. Independentemente de raça, cor da pele, condição social, condição físico-mental, orientação sexual ou religião! 

Tolerância? Sinto, mas a minha já estacionou no nível zero! E isso, senhoras e senhores, em mim, não é somente mais uma questão de semântica...

Lucia Helena Corrêa
Rio de Janeiro, abril de 2013.

domingo, 24 de março de 2013

Mas, então, por que o Brasil?*


O papa é argentino? É. Mas Deus continua sendo brasileiro! Nada contra os nossos vizinhos; apenas uma constatação...

Não tem jeito! Desde que os europeus aqui chegaram, portugueses, holandeses, ingleses, espanhóis e outros mais, não necessariamente nessa ordem, estabeleceu-a a esculhambação. Nada pior para avacalhar um país do que turistas sem educação. E, convenhamos, os primeiros que aqui chegaram... Até a matança dos nativos, nos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI... antes da brutalidade que representou a expulsão deles do Museu do Índio, neste março de 2013, primeiro, foi a obscenidade das roupas que atiraram sobre a pele nua dos verdadeiros donos desta terra; depois, os espelhos, que instituiriam para sempre a prática do suborno, da corrupção, bem antes das cestas básicas e das dentaduras, objetos de barganha na caça aos votos. Pobres e bravos caciques! Contra a brutalidade e a falta de escrúpulos dos caras-pálidas quiseram exercitar a luta limpa, honrosa. Pobres donos da terra! Índios? Que índios? Uma pinoia! Nativos, os donos da terra, repito!

O Brasil é um País desde sempre saqueado pelos degredados da Coroa portuguesa, com a ajuda luxuosa do Poder Secular, com os jesuítas no comando. Na relação dos portugueses com o Brasil, a coisa menos abusiva foi o esforço de Don João VI, amante das palmeiras e das boas letras. Talvez tenha sido a única vez em que o colonizador usou a delicadeza no processo de aculturação. O único, talvez, que nos quis mostrar a cultura universal sem a empáfia dos que creem que só eles sabem das coisas – desde as gravatas, essa aberração num país tropical, até os espartilhos, passando pela crueldade mental da Abolição, após a qual, nós, os negros, ganhamos nada além do chão para andar. De preferência, longe da polícia. Cruz credo! 

A síndrome do abuso, do estupro cultural, com as honrosas exceções de sempre, acomete norte-americanos, franceses, italianos, ingleses... Que o digam as meninas prostituídas nas praias do Nordeste. Em vez de bonecas, filhas geradas fora do tempo, para realimentar o exército da pobreza... e, claro, a prostituição. É a roda da loucura social, que não se cansa de triturar esperanças.

Mas não é só. Vira e mexe, lá estão eles, os gringos, nas páginas da mídia internacional, nos ensinando a fazer economia, cuidar das nossas florestas, blá... blá... blá... Antes, os Estados Unidos, “pai” do equivocado monetarismo, país que não aprendeu a virtude da poupança, somente o pecado da gastança, foi à banca rota. E a Floresta Negra? Desapareceu 100%, queimada pelos bombardeios à Alemanha, durante a II Guerra Mundial, coisa de europeus... Mas eles não se lembram disso (não lhes convém lembrar) e agora querem respirar pelos nossos pulmões... 

Os europeus também não se lembram de que, depois da II Guerra, tiveram as respectivas dívidas perdoadas. Mas nós continuamos inadimplentes, nós que já lhes pagamos e continuam pagando com o saque das nossas riquezas, muitos juros e correção monetária. O Brasil continua sendo estuprado – florestas, pedras preciosas, plantas, animais silvestres e ouro (o mesmo que Portugal levou e hoje, com a maior sem-cerimônia chama de “ouro português, o melhor do mundo”). Nossos bens mais preciosos continuam cruzando a fronteira e engordando a fortuna dos saqueadores.

No Brasil, governantes e políticos são o que eu chamo de “o fim do resto”, a escória – a pior safra de todos os tempos! Jamais se viu tamanha cara de pau, omissão e capacidade de roubar o Erário Público. Jamais assistimos a tantos crimes de lesa-Pátria. A crise de liderança é total. Nunca mais nasceram os Ulisses Guimarães, os Pedro Simon, os Mário Covas... 

Este país vai de mal a pior! Mas, então, por que é que eu rosno para qualquer gringo que ouse falar mal do Brasil, seja aqui ou nas minhas viagens ao exterior? É que este país é o lixão mais delicioso do mundo. Brasil é Brasil... e ponto! E não há qualquer complexo de Poliana nisso. Numa festa do Partido Democrata, em Nova York, mesmo abominando George Bush, duvido que alguém experimentasse falar mal do presidente da República, aquela aberração! Só brasileiro fala mal de si mesmo...
 
O Brasil é uma merda? É. Mas me recuso a viver (sic) em qualquer outro lugar do mundo. Nos anos de chumbo, em plena ditadura militar, eu não tinha tanto medo de ser presa e torturada quanto de precisar viver no exílio. Meus piores pesadelos se desenhavam em torno dessa triste hipótese.

Estudar Jornalismo na Alemanha? Por que e para quê?, eu me perguntei, em 1973, quando me ofereceram bolsa de estudos. Não me dava gastura apenas o fato de ter de aprender uma língua com 16 declinações!!! Ora, se não admito viver fora do Brasil, que utilidade teria o Jornalismo aprendido na Alemanha, com certeza, incapaz de dar conta da cultura verde-e-amarela. No bom Jornalismo, motivação, continente e conteúdo, cirurgicamente  ajustados ao conhecimento da realidade que se reporta, são ingredientes fundamentais. Não era o caso. Então... nada feito! E tem mais, descartei: na Alemanha não tem crioulo, partido alto, Cartola rolando na vitrola, Salgueiro, Flamengo, feijoada, banana d’água, churrasquinho de gato, torresmo... Na Alemanha não tem Guaraná Antarctica, caramba! Isso não poderia dar certo...

Em Montreal, carioca esperta, fui testar aquilo que sempre se disse dos canadenses – que eles, ao volante, param o carro se o pedestre ameaçar atravessar a rua. Mesmo fora da faixa e em plena via expressa! Verdade verdadeira! Lá, o pedestre, que ninguém chama de pederasta, é a prioridade. Mesmo. A justiça social se pode apalpar. O único mendigo que vi vestia um casaco mais bem cortado do que o meu. E era bem gordinho, até... É que, ao final da jornada, os restaurantes servem ao homeless o que sobrou do almoço... do jantar! Ao contrário do Brasil, país da fartura e do desperdício, lá, nada se joga fora! No frio de lascar, os sem-teto dormem nas galerias e shoppings subterrâneos, todos superaquecidos. Uma ambientação que torna difícil acreditar que lá fora a temperatura é de 30 graus negativos! Brrrrrrrrrrrr... E ninguém ousa expulsar os pobres ou atear fogo neles, enquanto dormem...

Canadá. A não ser pela neve, que nada tem de romântica; pelo contrário, produz lama e induz aos tombos, o país das fraturas seria o paraíso para os que apreciam a vida social mais justa e equilibrada.
 
O mesmo se pode dizer da bela Madri, onde tudo é tão limpo e simetricamente arrumado que a impressão que se tem é de que os espanhóis todos sofrem de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). As galerias nunca entopem, porque, simplesmente, o povo, educado, não joga lixo na rua. Simples assim. Se as árvores outonais o fizerem, esticando aquele belo e farfalhante tapete de folhas amarelas, a Prefeitura logo trata de limpar. Pois é... Em Madri, só me incomodam as touradas! Sempre torço pelo touro. Sempre! Torço para que ele enfie o chifre no traseiro dos torturadores.
 
Na milenar Toledo, dentro dos castelos que, na Idade Média, serviram de palco para o sacrifício de milhares de condenados à guilhotina, é possível ouvir vozes, uma espécie de rumor dolorido e choroso. Toledo. Fantasmagórica... e bela! O desenho altivo das ruas, no topo dos morros, empresta à cidade aquele jeito mágico, que não cabe na palavra. Só no sentimento. A cultura moura se materializa na arte artesanal – dos xales aos queimadores de incenso, passando pelos sapatos para bailarinos de dança flamenca, verdadeiro frenesi. Em Toledo, troquei com o belo homem da pele acanelada aulas de samba por aulas de castanholas. E alguns beijos, ainda que fraternos, que, afinal, ninguém é de ferro...

Ah, de fato, há lugares, mundo afora, onde se pode viver sem vista para a pobreza e a violência. Lugares onde a corrupção ainda não virou vício. Lugares maravilhosos nos quais é possível caminhar de madrugada pelas ruas sem assaltos e sobressaltos. Mas todos têm um defeito irreparável: não são o Brasil!

O papa é argentino? É. Mas Deus continua sendo brasileiro. E eu também! 
* da série Escritos Femininos – prosa poética, no prelo

domingo, 10 de março de 2013

INDIGNADA? SIM! E MUITO!

ÀQUELES QUE CREEM QUE ESTOU "INDIGNADA DEMAIS" COM O ANTICRISTO DO MARCOS IN-FELICIANO, RACISTA E HOMOFÓBICO DECLARADO... DESCARADO!

AVISO! NÃO VOU MAIS PARAR ATÉ QUE ELE DEIXE A COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS! E ESTA PÁGINA É APENAS UM DOS INSTRUMENTOS QUE PRETENDO USAR NESTA GUERRA!

CHEGA DE DAR LINGUIÇA PRA CACHORRO TOMAR CONTA!

CHEGA DE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO!

FORA, MARCOS IN-FELICIANO!

Vocês todos têm direito à sua opinião. Alias, fiquem com ela!

Mas a verdade é que o quer que os judeus, os negros e os homossexuais façam, diante da dor (atávica) que o nazismo, o racismo e a homofobia lhes impingiram e continuam impingindo, ainda será pouco.

Mas vocês teriam de nascer de novo, judeus, negros ou homossexuais, para entenderem do que é que estamos falando... aqui.

Se nós não nos mobilizarmos, se não fizermos nada, outros Hitlers virão! E esse pulha do Marcos IN-Feliciano leva o maior jeito...

Vocês já viram o filme do diretor e roteirista sueco Ingmar Bergman chamado "O Ovo da Serpente"? Ele conta como foi que começou o nazismo na Alemanha: um dia, uma piadinha sem-graça aqui; outro dia, uma frasezinha nojenta ali e muita, muita gente como vocês, seduzida e cooptada por Adolf Hitler...

Vocês não precisam nos ajudar, se não acreditam na nossa causa e preferem a covardia do silêncio. Mas não o ajudem também, com comentários que tentam desautorizar um movimento legítimo como esse!

Em nome de Xangô, orixá da justiça, fiquem fora disso!