sábado, 12 de dezembro de 2009

SEXTO SENTIDO











Os olhos, arranhados de tristeza
(tantas são as perdas...),
andam assim... meio baços...
Já nem sei mais, na enchente,
aonde me levam meus passos...

Os ouvidos cospem discursos vazios
e noticiários sobre corrupção, na TV...
Emprenhados, meus ouvidos cairam moucos...

Dinheiro roubado nas cuecas e meias,
leite infantil batizado com soda cáustica
e crianças atiradas pela janela...

O cheiro “deles” me azeda o olfato...

Nesta festa de tarados e loucos,
tateando, na solidão de mim mesma,
às vezes, balanço
entre o pesadelo e o fato...

O sabor de tudo é tão enganoso...

Mas minha alma, livre,
me leva aonde nem mais o coração alcança...
E eu insisto, insisto, insisto...
porque ainda me sobra um tanto assim de esperança!


A TODOS os amigos (e nem tanto) com o melhor do meu amor. Feliz Natal! Que 2010 seja um ano curto para as tantas e tão intensas alegrias!


LHC
dezembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Luiza Erundina, mulher porreta!


Ao contrário da maioria dos intelectuais de esquerda na minha idade – mortalmente atingidos pela amargura da revolução que não souberam fazer – não acredito que tudo esteja perdido... Não mesmo! O Brasil tem jeito, sim, senhores! É só a gente querer... e ter a coragem
de fazer o que tem de ser feito!Mas confesso que minha fé na justiça e no poder de discernimento do ser humano se estilhaça quando leio nos jornais que os mais diversos segmentos da sociedade paulistana estão-se mobilizando para ajudar a ex-prefeita Luiza Erundina a cumprir a condenação imposta pela 1ª Vara de fazenda Pública: pagar uma dívida de R$ 350 mil à Prefeitura.O que espanta não é, tão-somente, o exagero da pena. O que me incomoda é a forma como a dívida foi contraída: em março de 1989, quando ainda era apenas deputada, Erundina teria utilizado recursos públicos para pagar a veiculação na mídia de um comunicado que tratava da paralisação de ônibus, entre os dias 14 e 15 de março de 1989.O que me enlouquece não é apenas o fato de não caber mais recursos e, assim, ser esta a primeira e única condenação na longa e reta vida política da ex-deputada e ex-prefeita de São Paulo.O que me dói é verificar que o povo e a lei (não a Justiça), no Brasil de corruptos e ladrões, confessos e dissimulados, punem uma das pouquíssimas personalidades políticas que não engordaram a conta bancária ao passarem pelo governo da maior e mais importante cidade do País.
O que me tortura é certeza de que, no Brasil, bons antecedentes depõem contra...
O que me faz sangrar a alma-cidadã não é somente o fato de a Justiça (sic) ter acatado uma ação popular (Eta povinho equivocado!). A vontade popular que absolve e continua votando nesse escroto do Maluf é capaz de condenar logo a Erundina, única pessoa na qual desde sempre voto em total confiança, independentemente do partido no qual esteja (nunca fui PT e nem PSB). Luiza Erundina sempre mereceu e sempre merecerá o meu voto porque, mesmo atordoada diante do comunicado da condenação, tenho certeza de que em nenhum momento pensou que, se tivesse cedido à atávica vocação dos políticos brasileiros para a corrupção, o saque e o enriquecimento ilícito, talvez jamais tivesse sido questionada e, menos ainda, condenada. E, se fosse, teria de onde tirar esses R$ 350 mil... Luiza Erundina, do alto da mais plena dignidade, não se envergonha e nem se arrepende de nada. Ela faria tudo de novo! Do mesmo jeito! Luiza Erundina! Garra de sertaneja! Luiza Erundina! Mulher porreta!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CARTA DE AMOR...

quando estou presa na diálise, me passa cada coisa pela cabeça e pela caneta... Ontem, me passou esta carta de amor... Uma coisa que Fernando Pessoa, o poeta, disse ser a mais ridícula... (Mas disse, também, que mais ridículo e quem jamais escreveu uma carta de amor.) Quando eu me for para Saturno, não quero ir me sabendo ridícula...

Eu te amo, nego! Terna e eternamente!

***
Quando eu for morar em Saturno, vou sabendo que fiquei por aprender umas tantas coisas. Com certeza, sairei de cena, atriz reverente, pedindo desculpas. "Perdoem a nossa falha"!, direi inclinada sobre mim mesma, olhos baixos, presos ao chão... Quando eu for morar em Saturno, com certeza, irei sem ter aprendido aterceira maior virtude (a compaixão), embora, sem modéstia, me considere autoridade nas outras duas, bem mais importantes -- a lealdade e a generosidade.
Jamais traí a mim mesma. Nem ao amigo. Nem ao amante. Quando eu me busquei, estava lá. Quando eles me buscaram, cá estava eu... Sempre pronta. Sempre atenta. Sempre amante... Fui leal. Não dei tudo o que mereciam, aos meus amigos, filhos e amantes. Mas dei, sim, sempre, tudo o que existiu de melhor em mim. No fundo da minha alma não sobraram restos de nada. Tudo e a todos eu dei. Fui generosa. Mas não aprendi, diacho!, a virtude da compaixão, que nada tem a ver com o ódio. Ódio? Jamais! Odiar é como ingerir veneno e esperar que o inimigo morra. Bobagem! Mas, sem ódio, não aprendi a me apiedar dos que me ferem... Esses eu entrego ao julgamento (duro) de Xangô, meu Pai (Kaobabeci!).
De antemão, em discurso de autodefesa, tenho a meu favor o fato de ter aprendido a lição, de todas, mais difícil. Mais difícil que a própria vida, mais que Má-temática. Geometria, Trigonometria, Álgebra, Inglês britânico, Latim, Grego, Chinês...
Mas preciso te dizer, em bom Português: eu aprendi a amar, te amando. E te amando do único jeito que o amor aceita: tomando o amor como algo pleno, que se basta a si mesmo, e que, por isso mesmo, prescinde até do amante... Saber que da tua existência já me basta! Se vens, aí, é a glória -- faço poesia, música e lasanha... Mas, se não vens, o meu amor se realiza igual, porque está em mim. O meu amor, só e apenas ele, te faz meu. Aqui ou em Saturno...Bendito seja este amor, no outono da minha vida!

Repito: eu te amo!

LHC

P.S.: Mais uma vez: eu te amo!

sábado, 12 de setembro de 2009

É hoje! É hoje! É hoje!

Tem dia que é assim: acordo mais Oxum do que Xangô, mais sentimento do que razão... Menos Touro, mais Escorpião... e aí, finalmente, entendo porque meu coração cresceu mais do que o normal e, às vezes, quase explode: era mesmo preciso, pra me conter... e tanto... Tem dia, meu amor, que eu acordo, mas continuo sonhando. E a alma, livre da garra dos pés, sai voando nos braços da poesia, e lá, livre de tudo, se derrama inteira nestes versos, refúgio de todas as dores. Deve ser este o endereço de mim mesma -- e da Divindade...

Ouvindo Nana Caymmi... (Ai!)

Me amar, meu amor?
Isso seria muito pouco...
quase só um detalhe...

Onde você estiver,
o que eu quero,
mesmo que sua memória falhe,

é que jamais se esqueça de mim...
Isso sim...

Masculinamente, se esqueça
da cor do meu vestido
naquele dia e erre a nossa canção...
No meu aniversário, esqueça o presente
falte ao jantar e me mate de fome.
Faz mal, não...
Na crise de ira,

troque até o meu nome.
Mas, pelo meu amor, que é tanto,
mesmo que tudo passe, assim...
mesmo que se quebre o encanto,
por favor, não se esqueça de mim...


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Só rindo... só rindo...

De volta do HC, não paro de pensar nas recomendações do meu médico. "LHC, sem querer alarmar ninguém" e, também, "sem querer ferir a ética, contestando as autoridades de saúde, os colegas de profissão", ele me diz, "a gripe suína está matando muito mais do que se confessa e se publica"...
No grupo de risco, é melhor eu ficar em casa, quietinha, ele aconselha, com aquele ar que o aproxima da irritante onisciência divina. Médicos são assim...

"Nada de incursões pelas boates da vida, nada de jogos no Maracanã ou no Morumbi... Se possível, evitar até mesmo as brincadeiras no parquinho, com as netas...", ele me condena.

Aliás, apertos de mão, sem a prévia desinfecção com sabonete de qualidade, nem pensar. Beijos? Nem nos meus sonhos mais eróticos... O erotismo, coitado, depois da AIDS, não esperava outro golpe. Mas ele veio: a gripe suína! Que porcaria!

Puta da vida, só me resta, uma vez mais, o consolo da poesia.

Só rindo... só rindo...

Tulipa do pós-guerra,
sobrevivi a Hiroshima
e, pela vida afora,
carioca da gema,
desviando das balas perdidas,
vivi buscando,
pra minha própria sorte,
uma outra rima,
algo menos definitivo
e triste do que a morte...

Tulipa do pós-guerra,
eu tive gripe asiática
e ainda me lembro de mim,
apática, sorumbática...
Eu me lembro que, febril,
eu voava... voava...
e sonhava... comigo...

Tulipa do pós-guerra,
o DNA, de baixa imunidade,
me condenou, sem rim,
a dormir ligada ao computador,
amarrada pelo umbigo.
E não há o que fazer:
agora, só com peça de reposição.
Mas, pra isso, alguém terá de morrer...

Tulipa do pós-guerra,
eu enfrentei a malária,
a anemia e a caxumba...
embora meu maior fantasma
sempre fosse, de longe, a solidão...
Um dia, irritei a vizinha
e, por conta de um ebó,
quase morro de macumba
.

Tulipa do pós-guerra,
na ditadura, corri da polícia,
e defendi a democracia
nesta pobre República.
O que restou da infância
-- bolas de gude --
eu gastei derrubando cavalos
e cavalheiros armados,
em plena praça pública.

Tulipa do pós-guerra,
depois de queimar o sutiã
e eleger a pílula,
quando eu driblava a AIDS
e me preparava para o amor,
pra delícia do tesão,
veio ela, a gripe suína...
E eu, no grupo de risco,
mal e porcamente,
posso, agora, apertar a sua mão...


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

É PROIBIDO FUMAR.
Mas... só agora?

De repente, fumar é feio, cafona, falta de educação... faz mal à saúde. Então... é proibido fumar! Mas quem são, afinal, os vilões dessa história?

por LHC, ex-fumante

Pior do que o fumante sem educação somente alguns ex-fumantes... Eles são como o velhinho implicante, que se esquece de que já foi menino e é capaz furar a bola da molecada quando ela lhe cai no quintal.


(Quando falo de implicância, não me refiro àqueles que não gostam que fumem perto deles. Absolutamente! Falo, sim, daqueles que se julgam mais inteligentes apenas porque se mantiveram longe do vício ou porque conseguiram, depois de viciados, livrar-se da compulsão.)

Sem essa de MORALISMO! Não tem gente mais chata, mais qualquer nota do que os moralistas, capazes de bolinar a empregada ou de cantar a recepcionista!

Bola só mata se o jogador for cardíaco ou for atropelado correndo atrás dela, sei lá... Cigarro, quando não mata, aleija. No mínimo, deixa o beijo com gosto de cinzeiro... E também se fuma e se morre por "solidariedade"...

Mas, puxa vida!, não cabe radicalismos e intolerâncias -- nem de fumantes, nem de não-fumantes (os que jamais fumaram ou ex-fumantes).

Em outras palavras, todo mundo deve ter o direito de escolher como quer morrer. Eu escolhi morrer respirando. E escolhi quando, com meu pulmão cheio de água, por conta da súbita paralisação dos meus rins, há dois anos (11 de agosto de 2007), fiz um edema. Gente, fiquei um bom tempo sem ter como sorver o ar sequer pela boca! É horrível! Quem fuma pode morrer assim. Não aconselho...

Mas quem escolheu morrer respirando deve deixar a quem queira escolher a morte por asfixia. Simples assim: quem não quer fumar que não fume; quem quiser fumar que fume (longe daqueles que se incomodam com isso!). Ou que, por gentileza rudimentar, pergunte, como os galãs, nos velhos e educados filmes de Hollywood: "May I smoke, lady/sir?"

O fumante só tem o direito de fumar sem ser insultado! Sem que que ninguém lhe deseje a morte sem ar. Nada mais! Não lhe é facultado o direito de me fazer fumar com ele!

Mas não me/nos cabe julgar e condenar fumantes. Não me caberia mesmo que eu jamais tivesse experimentado o prazer de um cigarro e não admitisse que, em determinados momentos, pode ser delicioso... Tudo o que é bom engorda, faz mal ou é pacado, já diz o sábio senso comum.

O que quase ninguém discute é a verdadeira conspiração a favor do cigarro, antes de tudo isso!

O que é preciso para gerar um fumante, afinal? Primeiro, uma indústria que prefere o lucro financeiro à ética. Depois, governos, pais, educadores e comunicadores omissos ou, pior, cujo exemplo só faz corromper...

Na minha época de adolescente, a indústria estampava, com o aval das autoridades de saúde e da mídia, o glamour de fumar. Eu que sonhava ser a Zezé Mota, me imaginava reproduzindo a imagem dela degustando um cigarro, com aquela cara inenarrável de prazer... Bela Zezé. Nunca foi tão belo e chique fumar...

Até pouco tempo, o governo ganhava rios de dinheiro com impostos e, cinicamente, afirmava, nas entrevistas que eu, como jornalista de economia e finanças, cansei de reportar, que a receita servia para financiar "projetos sociais". E eu, comunista, acreditava. E pagava para ver. Fumando... Depois da guerrilha sufocada e da revolução que eu não tive competência pra fazer, fumar ficou sendo, assim, a minha mais radical contribuição à "causa"...

Meu pai morreu aos 40 anos, de infarto, provavelmente, vítima do cigarro (três maços de Lord Club por dia!!!). Minha mãe, apaixonada, para ser "solidária", fumava. Um dia, para me aliviarem, numa dor de dente, eles próprios me serviram o meu primeiro "pito". Eu comecei fumando para me livrar da dor!, o que já é
o supra-sumo da sensação de prazer -- ver cessar uma dor de dente...

Minha professora mais querida, Dona Narcysa, que me ensinou os mistérios da análise sintática, não soube como me ensinar a não copiá-la no gesto de fumar. Ela fumava em plena sala de aula! Àquilo, sim, se poderia chamar de "lições de morte".

Minha bisavó paterna, queridíssima, comia fumo. Não se trata de hipérbole. Ela comia, literalmente! Minha bisa mascava fumo! Nos intervalos, ligava o cachimbo...

Quem poderia, pois, me crucificar, se eu continuasse fumando -- mais pelo exemplo (a melhor maneira de educar ou deseducar) do que pela dependência química em si, da qual eu me livrei quando decidi melhorar a minha performance vocal e me livrar das celulites?

De repente, vêm governos e autoridades (são coisas diferentes), que, de olho no desequilíbrio receita/despesa, resolvem economizar gastos com os sistemas de Previdência e Saúde me proibindo de fumar. O que eles querem não é, certamente, preservar a minha vida, mas, sim, eliminar as despesas que as sequelas do fumo geram. Pouco importa se, agora, existe uma legião de viciados, dependentes químicos, alguns deles já incapazes de viver sem o cigarro. No Instituto do Câncer, no Rio de Janeiro, um paciente submetido a traqueotomia, por conta de um câncer de laringe, fumava pelo orifício que lhe fizeram no pescoço! Às escondidas, no banheiro. Feito um bandido! Quando descoberto, sem que o pudessem prender, ameaçaram-no com a
alta à revelia.

Afinal, o que é que me espanta? Os donos do craque estão a salvo. Os viciados? Aqueles que sobreviverem ao vício não escaparão do sistema de saúde que os condena a priori. Por omissão de socorro ou por maus tratos...

Agora, nos bares, assim como em quaisquer lugares/áreas públicas/as de convivência, aquele que fumar e for convidado a apagar o cigarro ou sair e não o fizer vai preso. Basta requisitar a força policial. Mas... quem prenderá os capitães de indústria e os governantes, que se locupletaram todos estes anos? Quem dará ordem de prisão às autoridades de saúde? E os pais e educadores que fumaram na nossa
frente e ainda nos pediam para lhes acender o cigarro, algumas vezes?

De repente, todos -- governo, família, médicos, amigos, donos de bar, policiais e um exército de voluntários xiitas -- resolvem desmentir uma história que já deu bolor de tão velha. Fumar é feio, cafona, mata... De repente, é proibido fumar! Mas enganam-se os que veem na proibição uma súbita crise de consciência. Os capitães de indústria e os coniventes de sempre, por adesão ou omissão, estão mobilizados pelo mesmo interesse financeiro que ergueu a indústria do fumo: lucro. Ou economia de custos, o que, no final, dá no mesmo.

Mas, agora, sinto dizer: talvez só lhes reste fazer o mea culpa, ter paciência e pedir a Olorum que os perdoe!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

EXTRAEXTRAEXTRAEXTRAEXTR
Balada para Michael Jackson

Não tenhas mais medo, menino!
Agora, pouco importa a cor da tua pele.
Lá, além daqueles holofotes,
nada nem ninguém mais te fere.

Lá, sem mais manchetes,
todos os anjos, sorrindo, ao teu lado,
hão de vir para a festa,
dançar o teu eletrizante bailado.

Dores... essas nunca mais...
No clip da eternidade,
ao pés de Olorum, todos os meninos,
absolvidos e libertos, descansam em paz.

domingo, 21 de junho de 2009

FIM DO DIPLOMA DE JORNALISTA
Eles não perdem por esperar...

Os argumentos a favor da insanidade eram e continuam sendo todos pífios. O mais boçal deles, entretanto, sustenta que o jornalismo é uma forma de liberdade de expressão e que, portanto, deve ser franquedo a todos. Tipo geral do Maracanã... Esses "guardiães da cidadania" não sabem e jamais chegarão a saber (porque não lhes interessa saber) que estudar, adquirir conhecimentos e exercer a profissão (qualquer que seja), com honestidade e capricho, isso sim, é que é exercício de liberdade pela via do ofício.
Liberdade de expressão? Fala sério! A quem eles pensam que enganam?
De verdade, a quem, afinal, interessa o fim da exigência do diploma para exercício da profissão de jornalista? Aos donos dos meios de comunicação, claro! Deixe-me arriscar... Não seria às cinco famílias que detêm, neste País de capitanias hereditárias ainda a pleno vapor, quase 90% do mercado editorial mass media?

O que aconteceu era de se prever. Contra a força não há resistência. Não por muito tempo. Desde sempre esses verdadeiros coronéis pós-modernos, donos do chamado Quarto Poder, eles pórprios o poder primeiro, sefundo terceiro e quarto, vêm abastardando o jornalismo. De diferentes maneiras. No final das contas, era de se esperar, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que congrega os "empresários", foi mais "convincente" do que a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e venceu a queda de braço que durava anos... Acho até que resistimos demais...
Mas... e agora, me perguntam os amigos? De minha parte penso em me engajar numa campanha para que também se elimine a exigência do diploma para os médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos, engenheiros e advogados... A bem do fim do "corporativismo"!, outra alegação descabida, vazia... Ora!, dirão esses inocentes inúteis, as profissões de médico, dentista, engenheiro, advogado, quando mal exercidas, implicam risco de vida das pessoas, o que não é o caso do jornalismo. Mas... e a ignorância? E a estupidez disseminada por profissionais de imprensa despreparados? Não seria igualmente mortal? Quem disse que uma notícia mal dada não pode levar à morte? A história coleciona histórias a respeito...
Exageros à parte, repito, o fim do diploma de jornalista só interessa aos de sempre... E os prejudicados também são os de sempre...
O que posso responder aos amigos preocupados comigo, sabendo do orgulho que sempre tive e sempre terei de ser jornalista? Eu lhes digo que sosseguem! LHC continuará sendo uma profissional procurada e muito bem paga, modéstia à parte. Conta muito a experiência que acumulei destes 40 anos de exercício profissional. Mas o que igualmente conspira a meu favor são os conhecimentos adquiridos no curso de graduação, em Jornalismo Gráfico e Audiovisual, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, depois, no curso de doutorado, na USP. Muito devo a professores tais como Nilson Lage, Heloísa Buarque de Holanda e Antônio Cândido, para citar apenas os mais ilustres.
(Por favor, me poupem da afirmação, estúpida, de que as faculdades de jornalismo são ruins e nelas nada se aprende. Meu ouvido não é pinico! Se o braço infecciona, então, corta-se o braço? Não seria melhorar ministrar um antibiótico? Por que razão, sempre, se escolhe a saída mais fácil -- aquela que vai dar na mediocridade, no abastardamento? Porque interessa a eles... Simples assim!)
Depois de arrombada a porta, sentada aqui na sala, assistindo à devastação, não consigo, porém, me livrar de um pensamento maquiavélico (bem ao meu estilo), quase uma praga: deixe que as pessoas passem longe da universidade, pensando que são espertas... Eu, a idiota, a corporativista LHC, estarei sempre em vantagem absoluta, porque conhecimento (a única coisa que ninguém nos subtrai, na calada da noite) é o que faz a diferença. Posso perder espaço para os yuppies e nerds, no Estadão, nas Folhas e nos conglomerados jornalísticos que preferem pagar menos... Mas a imprensa, afinal, não são apenas eles... Não mais. Até mesmo os donos de jornais, os Mesquita, os Frias, os Sirotsky, os Civita e os Marinho, que fizeram toda a carga, um dia, saberão disso -- quando a péssima qualidade de seus veículos, que já se arrastam, moribundos, vivendo hoje dos favores, impublicáveis, de governos corruptores e anunciantes sem ética, perderem de vez o espaço para a comunicação virtual, que cresce... e cresce... e cresce... embarcada neste verdadeiro milagre chamado Internet.

Deixe estar... Eles não perdem por esperar...


domingo, 29 de março de 2009

De loucura... e de poesia...

... às vezes, só mesmo a poesia,
nua, crua, brutal e dura...
sem papas na língua nem anestesia...
às vezes, só mesmo a poesia,
para nos livrar da loucura...

Lá vai a primeira...

Meus amores,
a idade nos tira algumas coisas e nos faz aderir aos óculos. Mas... estranhamente, a gente começa a enxergar aquilo que era invisível aos olhos e à alma quando se tinha uns poucos anos... E eu fiquei ainda mais atrevida. Quem quiser que experimente...

Outro dia, puta da vida, porque tive de passar o dia inteiro no Incor, no limite da paciência, um daqueles médicos que pensam que são o próprio Deus (mas são tão competentes que só fazem apertar o botão da máquina do ecocardiograma e ainda erram...) se vira para mim e ataca: "Titia, até que, para quem está tão doente, a senhora está com uma bela aparência," disse ele, referindo-se ao meu batom e à minha altivez, que veio no DNA (fazer o quê?)... Logo depois, em alto e bom som, ainda na antessala, me perguntou que idade eu tinha. "Esqueci. A velhice roeu a minha memória...", respondi já sacudindo o chocalho. E não teve F da P que me fizesse declarar a minha idade...

Quando sai dali, estava pronto, na cabeça, o poema que eu vou entregar a ele no mês que vem, quando se repetem os exames pré-transplante de rim...

Aos 60,
já fiquei invisível,
para a maioria dos machos
Não tem mais batom vermelho que dê jeito...
Diacho!
Mas... quer saber?
Azar é do macho!
Ao sessenta, longe de ser anciã,
anseio...
LHC. Estado civil? Apaixonada!
Em vez de sexagenária,
sexoagenária...
Azar o dele, se a ficha não caiu...
E, antes que eu me esqueça,
tia é a vó! E vovó é a puta que o pariu!

P.S.: Se preparem que vem aí a minha festa de 60 anos. Vai dar no jornal!


Lá vai a segunda
(para Léo...)
Coisas do amor... e da tecnologia

Que sorte, meu amor! Que sorte!
Imagine: logo eu, rato de Internet,
não vi aquele seu e-mail...
aquele no qual você diz que não me ama,
reclama, reclama e ainda me chama de feio...
Assim... sem mais nem aquela...
sem anestesia e sem afago.
Que sorte, meu amor! Que sorte,
porque, veja só: se eu leio,
nossa! ia ser um estrago...
Sem você sou o rascunho de mim mesmo...
Uma viagem que fica no meio...

Ainda bem que a mensagem não veio...


LHC, a mulher-sigla
Se beber, não escreva. E nem leia!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Preconceito. Mas... até quando?

Descarado, às claras, ou sorrateiro, escondido atrás de eufemismos cínicos ou pela afirmação de que tudo não passa de... "bricadeirinha boba", o preconceito -- racial, social, religioso ou de orientação sexual, pouco importa -- parece não ter fim. E dói mais quando a identificamos nos nossos próprios amigos...


Mulher, negra e pobre, num país machista, racista e metido a besta, desde sempre exprimentei o sabor amargo do preconceito. Mas sempre cuspi o conteúdo desse cálice. Certa vez, editora de um importante jornal do Rio de Janeiro -- primeira mulher na imprensa brasileira a assumir o cargo de editora de economia, antes reservados a machos -- eu o perdi quando assumiu um diretor de redação que achava "essa mulata" mais adequada para a editoria Geral, escrevendo sobre buracos de rua. Na época, botei a boca no mundo. E acabei reavendo meu posto. Bem verdade, tive de travar uma longa e cansativa batalha contra o desafeto. E precisei redobrar o cuidado para não errar e dar a ele o pretexto que buscava para me demitir. Mas valeu a pena. No final de três anos, ele caiu fora do jornal. E eu continuei...

Eu sei bem o que é preconceito. Dói. E dói muito mais quando vem de amigos. Pois bem. Ele, o preconceito, está mais vivo do que nunca. Ainda às claras, agressivo ou envergonhado (a exemplo dos eleitores do Maluf ou torcedores de times que descem para a segunda divisão...), escondido atrás da afirmação de que não passa de uma "bricadeirinha que estamos valorizando demais, por conta da mania de perseguição", o preconceito está mais vivo do que nunca. Repugnante como sempre.

O preconceito acaba de pôr a cabeça. No texto em que protesta contra o que ele e outros mais consideram invasão das praias do litoral paulistano por "pessoas feias, pobres e sem educação, que tudo sujam", um grande amigo meu aponta a feiura dos caiçaras, "mestiços, filhos de português com índios".

Preconceito! Inadmissível! Inaceitável!

A brutalidade do texto não diminui o meu carinho pelo amigo. Mas me inspira a escrever a carta que aqui publico.

Meu caro amigo,

a pobreza é mesmo uma coisa muito feia... Joãozinho Trinta tinha razão: pobreza só agrada a intelectuais de esquerda. Eu, que nasci no pé da Serrinha, no Rio de Janeiro, amiga de infância do Escadinha, sei muito bem disso. Aliás, meus amigos de infância ou estão presos ou estão na cadeia...

Eu escapei... Pulei o muro e invadi a praia de alguém...

No Rio de Janeiro, mocinha ainda, quando eu ia à bela Copacabana, Leblon, imagino que os burgueses de lá diziam o mesmo de mim -- que eu era feia... Meu maiô, quando já se usava lycra, feito em casa, ainda era de tecido, ou de crochê, delicadeza da minha bisa. Flácido, sempre largo demais... Uma coisa...

Nós, minha família e eu, éramos muito feios... Conforme você e outros dizem. Conforme ainda devem dizer os cariocas do Leblon a respeito dos cariocas do além-Rebouças...

A pobreza é tão feia que a deputada Sandra Cavalcanti, da extinta UDN (União Democrática Nacional) de Carlos Lacerda, nos anos 70, dizem, mandou matar mendigos e atirá-los no Rio Guandu... Quando ela prometeu obra de saneamento, era disso que ela falava... Antes, deve tê-los mirado, os mendigos, horrorizada, numa praia da Zona Sul. Numa praia que ela julgou pertencer a ela e somente a ela...

Eu escapei, pra hoje lhe escrever estas palavras, a você e a todos quantos pensam como você.

A pobreza, que gera magreza, pele esquálida e macilenta, roupas mal cortadas e a falta de educação que suja as vossas praias, senhoras e senhores, é mesmo coisa muito feia... Me desculpem... Mas o nojo que ela inspira nas pessoas -- inclusive aquelas que poderiam fazer alguma coisa para mudar a situação de miséria, mas não o fazem e preferem cuspir -- essa, sim, é uma coisa horrorosa...

Se o pobre comer e tomar um banho de loja, se estudar, pronto... fica... bonitinho, sociável. Mas preconceito, senhoras e senhores, não há personal style que dê jeito...

Uma pena que eu não se possa fotografar esse tipo de feiura (agora menos acentuada, depois da Reforma Ortográfica)... Muito me agradaria clicar o fantasma -- o fantasma do desdém, do desprezo, do esnobismo... e, depois, tendo-o preso na matéria papel, afogá-lo nas águas sujas do Guandu.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Telefônica. Cada vez pior.

... e a Anatel também...

É o fim do resto!

Quem foi que disse que a pirataria está circunscrita aos mares da Somália? Pirataria é uma prática comum em telecomunicações. Fique esperto!


Aconteceu o que era previsível, neste país entregue à sanha dos saqueadores desde sempre. A espanhola Telefônica, depois de se locupletar, engordando a receita mirrada com a venda de serviços de acesso à Internet, na manhã desta quinta-feira, surpreendeu os clientes com a notícia de que, a partir de agora, não poderá mais oferecer conexão, dispensando os assinantes do Speedy de ter de pagar, também, a um provedor de acesso. Acabara a “gratuidade” da conexão, embalada no pacote do Speedy.

E como foi que os assinantes da Telefônica ficaram sabendo disso? Quando, na manhã desta quinta-feira, tentaram fazer acesso à Internet. Os que caíram no conto da gratuidade, comprando serviços de telefonia fixa de olho no “brinde” da conexão, da noite para o dia, literalmente, foram desconectados e aconselhados, por uma gravação da Central de Relacionamento Telefônica, a procurar um provedor – os UOL e Terras desta vida...

Pior, no verdadeiro caos que se criou, quem sempre se manteve ligado a um provedor de acesso “legalmente” (sic) constituído também ficou sem acesso! Simples assim: atordoados, os sistemas dos provedores de acesso (UOL, Terra e outros) nem sempre foram capazes de separar o joio do trigo e, na dúvida, sem saber quem era quem, desconectaram mesmo os que lhes pagam e sempre lhes pagaram. É o fim do resto! A mensagem mais comum, na falta de conexão era a de senha inválida.

E qual o motivo de tanta confusão? É que, antes, por força de liminar, a Telefônica havia obtido o direito de vender o pacote inteiro: telefone e acesso Internet, antes facultado apenas a “empresas especializadas” – os UOL e Terra da vida. A liminar foi concedida porque a Justiça reconheceu como vergonhosa uma reserva de mercado, que só faz prejudicar os consumidores. Afinal, as empresas de telefonia têm todos os recursos para prover, sem custo, o serviço de acesso à Internet. Mas ficam impedidas por uma lei caolha. Assim, se veem obrigadas a fazer “parcerias” com os provedores.

Enquanto durou o efeito da liminar, a Telefônica, espertinha, fazia do acesso à Internet um argumento a mais na venda de serviços de telefonia fixa, dizendo que o acesso saía de graça. De graça uma ova! O preço dos serviços de telefonia fixa, superfaturados, pagam com imensa folga, uma conexão sempre capenga!

Terra desliga o telefone

No começo desta semana, finalmente, os provedores de acesso, que vinham perdendo receita com a “generosidade” da Telefônica, recuperaram o direito à reserva de mercado. Mas, na volta à condição de reis de cocada preta, passaram a fazer revisão nos respectivos sistemas... Conclusão: os assinantes dos provedores UOL e Terra, mesmo os que sempre lhe pagaram, ficaram sem conexão.

Pior, ainda: a Central de Atendimento a Clientes do provedor Terra (3677-1515), que continua cobrando todas ligações, simplesmente, não atendeu os clientes que telefonaram para saber o que estava acontecendo ou solicitar suporte. À discagem do número, nenhuma resposta. Silêncio total. Mal e porcamente, a Telefônica é que informou que o Terra e o UOL estariam fazendo reparos no sistema e que a previsão quanto ao restabelecimento do serviço de conexão era de 6 (seis) horas.

Centrais. Tudo como antes...

Quem informou, mal e porcamente, o que se passava com o acesso via Terra foi a Telefônica, que, aliás, a exemplo das demais operadoras de telefonia testadas pelo VIVA-VOZ, não está cumprindo o que manda a lei recentemente editada, segundo a qual o atendimento nas centrais deveria ser rápido e eficaz.

A operadora continua expondo os clientes a longos e irritantes menus, intermináveis períodos de espera na linha e queda na ligação, no final das contas...

Telefônica TV Digital? Outra vergonha!

Capenga é, igualmente, o serviço de TV por assinatura prestado pela Telefônica, e que, a exemplo da brilhante peça de teatro de Clovis Levy e Tânia Pacheco (“Se chovesse, vocês estragavam todos”), continua saindo do ar cada vez que desaba uma tempestade. Como estamos em época de tempestades...

Pior: os melhores canais são liberados, tão-somente, por regime pay-per-view. Uma vergonha! Pior, ainda: vira e mexe, sem nem essa mais aquela explicação ou aviso, a Telefônica TV Digital, simplesmente, surrupia mais um canal da já curtíssima lista de canais que o pacote básico embala. Na prática, isso significa vender uma coisa e entregar outra. O último canal retirado foi o SBT. Agora, quem quer assistir à novela Pantanal, que entrou na reta final, tem de desligar o sistema de TV por assinatura e entrar na rede de TV aberta...

E a Anatel? Cadê a topeira da Anatel?

Quem devia fiscalizar e impedir que os assinantes passassem por tudo isso é a Anatel. Mas a rainha da inoperância, supra-sumo da incompetência, no caos, silenciou. Nesta quinta-feira, quem tentou fazer contato com a Anatel, a fim de reclamar ou pedir esclarecimento, só fez irritar-se ainda mais... Os telefones da Ouvidoria permaneceram ocupados...

No país entregue à sanha dos saqueadores, a Anatel é quem abre a porta aos piratas...