sábado, 18 de maio de 2013

Da próxima vez que eu me apaixonar...(*)

Da próxima vez que eu me apaixonar – visto que a paixão, essa, não sei, não posso e não quero evitar – vou ser bem mais cuidadosa.

Pra começar, nada de juras de amor eterno, dessas que, depois, quando o coração se esvazia, nos envergonham pela mentira contada. Tudo bem que se trata de mentirinha previsível e, quase sempre, inevitável. O que fazer, afinal, a não ser jurar, quando, no calor da festa, o amante nos cobra a promessa de amá-lo para sempre? O problema é que a gente acredita... o outro acredita... e, quase sempre, o estrago é devastador. Para sempre é muito tempo! É a vida toda! No balanço de perdas e danos, desonradas juras de amor são como quando se descobre que o tesouro enterrado no fundo do quintal não está mais lá... Nunca esteve!

Da próxima vez que eu me apaixonar, seremos apenas ele e eu! Nada mais de amigos, filhos, pai, mãe... A história dele? Não quero saber! A minha? Não lhe interessa saber! Um dos mais sagrados riscos da paixão é a cruel lembrança dos almoços de família. São “as tardes alegres com nossos amigos”, aquelas de que fala o Erasmo? Ah, como doem os costumes... Ah, e como dói o abandono dos amigos que com ele se vão! Azar o meu, se guardei só pra mim esta imensa ferida e, ao contrário dele, não a expus em praça pública, à piedade de todos. Coitado dele! Maldita seja eu!

Da próxima vez que eu me apaixonar, nada mais de conversas ao pé do ouvido, vinho branco, luz de vela e lençóis de seda. Na hora do amor, não passaremos do sofá da sala de estar. Plena quarta-feira, a sonoplastia será a irritante voz do Galvão Bueno, transmitindo Flamengo e Vasco! Brochante? Pode ser... Mas o risco de brochar é menor do que a dor da canção que, depois, nunca mais se pode esquecer. Nunca mais se pode ouvir sem chorar...

Da próxima vez que eu me apaixonar...

(*) da série “Escritos Femininos” – prosa poética, no prelo

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