quarta-feira, 10 de abril de 2013

RACISMO. A CRUELDADE MENTAL DAS PALAVRAS E GESTOS




“Tolerância” racial? Por que alguém tem de ser tolerante comigo porque sou negra?  

“Você é uma negra de alma branca”. Isso eu já ouvi dezenas de vezes. Inclusive de pessoas que se diziam minhas amigas – até que lhes chutei a canela, claro! 

“Na conversa ao telefone, nunca pensei que você fosse assim”, disparam os dissimulados de pouca inteligência, quando, finalmente, me encontram ao vivo e a cores.

“Não sei por que se aborrece tanto, se você, afinal, nem é tão negra assim...”, de vez em quando, dispara algum desavisado, tentando me aliviar deste meu “defeito”. Comparada a uma folha de papel, afinal, a criatura que me “elogia” não é tão branca assim... Mas ela se acha... 

Pior, porém, é quando, ao chegar a uma festa na qual sou a única pessoa negra, o dono da casa, “meu amigo”, larga aquele “atenção, meus amigos, que eu gostaria de lhes apresentar LHC, jornalista, poeta, compositora, cantora, uma pessoa de primeira linha”... Os outros todos são apenas o que são... E basta! O desfile público de tantas qualidades só aplica ao meu caso.  Não porque não exista na festa alguém com tantos e até mais “talentos”, mas, sim, porque, o coitado precisa justificar minha presença ali... É evidente que, se eu lhe disser isso, ele, com certeza, vai negar a agressão velada e tentar me desqualificar, chamando-me de paranoica. “Imagina...”

E é inútil tentar mostrar que, muito mais do que uma simples questão de semântica, as palavras, traiçoeiras palavras, carregam enorme e nem sempre disfarçável dose de preconceito. 

Na verdade, palavras e gestos, traiçoeiros, vivem prontos para saltar no meio do discurso “democrático”, estão aí para denunciar as pessoas que somente não assume o racismo, porque racismo é cafonice e elas não querem ser cafonas. Como aquele menino inconfidente que conta, em pleno elevador, o que é que os pais deles dizem da vizinha que acabou de entrar... Palavras e gestos traem a cafonice, que ninguém quer, porque, simplesmente, não combina com diploma de doutor e roupas de grife. Ou será que combina? 

Casos como o do pastor do diabo, Marcos IN-Feliciano, são raros. Além de racista, ele é mais burro do que o peru, ave natalina capaz de ficar presa, se a isolarem com um círculo de giz apenas riscado no chão. IN-Feliciano não tem superego – aquele cara que, segundo Sigmund Freud, fica puxando a cordinha e nos impede de fazer besteira. Muito mais do que racista, IN-Feliciano é louco. Tal e qual o eram Herodes, Nero, Napoleão, Hitler, Ozama Bin Laden. Tal é qual o é o louco da Coréia do Norte, Kim Jong-um... E IN-Feliciano está longe de ser o “maluco beleza” cantado pelo imortal Raul Seixas. Pelo contrário, IN-Feliciano é um louco superqualificado e perigoso, porque do tipo fundamentalista!

Mulata, moreninha, parda, marrom bombom... já ouvi de tudo. Mas há uma expressão que, muito mais do que todas essas, me incomoda demais: “tolerância racial”. E incomoda porque, feito o espião, o agente do mal, foi plantada nos movimentos ditos democráticos e neles virou espécie de palavra de ordem, vício de linguagem. E é assim em todos os movimentos pela defesa dos direitos humanos. De repente, lá está o líder do grupo defendendo que “é preciso haver tolerância racial, sexual, religiosa, blá blá blá”...

Tolerância? Tolerância uma porra! Por que alguém tem de ser “tolerante” comigo porque sou negra?  Por que eu deveria “tolerar” o homossexual, o judeu, o cristão, o budista, o muçulmano, o portador de deficiência física ou mental? 

Não é o caso de “tolerar” nada nem ninguém! Nós temos é de olhar as pessoas com o respeito que todas merecem. Independentemente de raça, cor da pele, condição social, condição físico-mental, orientação sexual ou religião! 

Tolerância? Sinto, mas a minha já estacionou no nível zero! E isso, senhoras e senhores, em mim, não é somente mais uma questão de semântica...

Lucia Helena Corrêa
Rio de Janeiro, abril de 2013.

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