sábado, 27 de abril de 2013

JOAQUIM ANTÔNIO DA SILVA CALLADO... MEU TETRAVÔ!

JOAQUIM ANTÔNIO DA SILVA CALLADO...
Não caibo em mim de tanto orgulho!


... e não é pra menos: acabei de abrir, e já estou lendo e ouvindo a lata que reúne, além de livro biográfico, os cinco CDs que carregam, rigorosamente, todas as mais populares peças compostos pelo meu tetravô, Joaquim Antônio da Silva Callado Junior, “o pai do chorinho e dos chorões” – valsas, polcas e chorinhos. Peças interpretadas por músicos que viveram ou ainda vivem nestes nossos tempos, entre eles, Altamiro Carrilho, Hermeto Pascoal e Sivuca.

No auge da produtividade, quando ainda ia completar 32 anos, dia 20 de março de 1880, lá se foi Antônio Callado, vítima de meningite – causa mortis oficial, porque há fortes rumores de que alguma mulher abandonada ou marido ciumento lhe teria envenenado a flauta... Talvez, o preço pago por ser um homem negro, bonito até não caber em si e desfrutando de livre circulação nos meios imperiais, “atrevido” a ponto de se apaixonar por Chiquinha Gonzaga, moça de pele branca e não fazer qualquer segredo disso. Para ela é que compôs “Sedutora”, gritando o sentimento “proibido” aos quatro ventos de uma sociedade racista até a medula! Sujeito corajoso esse meu tetravô!

Viveu pouco meu vô Quinzinho. Mas viveu intensamente e o bastante para criar um acervo riquíssimo, que revolucionou a música brasileira, partindo das valsas e polcas, trazidos pela Colônia e o Império, para chegar ao chorinho, um dos gêneros mais genuinamente nacionais, irmão do samba nos mais diferentes sabores. Um gênero, a princípio condenado pela burguesia, como “coisa de negros”...

Antônio Callado, flautista, pianista e compositor criativo, não fazia por menos: entre outras coisas, inventou a técnica pela qual ele, tocando apenas uma flauta transversal, dava ao ouvinte a impressão de que eram duas... Um gênio, o autor de “Flor Amorosa”, que compôs em parceria com Catulo da Paixão Cearense, autor da letra!
Mas é apenas a genialidade musical desse meu ilustre ancestral que me emociona e enche de orgulho. Há, também, segundo reconheço nele – subjacente no texto que apresenta a coletânea produzida pelo Centro Cultural Banco do Brasil e patrocinado pelo Ourocard – o moço romântico, apreciador da poesia e a música, armas com as quais sonhava polir os valores da época, melhorar o mundo. Ou, pelo menos, com a espátula da arte esculpir as próprias, as digitais neste mundo. Conseguiu!

Antônio Callado, descubro, hoje, emocionada, amava a Marina da Glória, que admiro todos os dias, no protetor de tela do meu computador, a caminho da clínica de hemodiálise ou, quando me sobra alguma energia, na caminhada contemplativa... Um dos chorinhos por ele compostos chama-se “Lembrança do Cais da Glória”. A mesma Marina da Glória pela qual sou perdidamente apaixonada, que inspirou e virou personagem de muitos dos meus poemas...

Vô Quinzinho apreciava a vida! E eu, aqui, a ouvi-lo, sinto renovar-se em mim a vontade de insistir na vida... Dizer menos seria muito pouco...

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FICHA TÉCNICA
“Joaquim Callado – O pai dos chorões”, projeto elaborado e executado, com capricho e brilhantismo raros – neste país que tão pouco valoriza a própria cultura –, pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), encaixa-se no programa Arte Fato Produto Cultural e leva a assinatura de André Diniz (coordenador), Egeu Laus (projeto gráfico), Camilla do Vale Fernandes de Miranda, Clarice Zahar, Juliana Carneiro, Juliana Lins, Marcos Gomes (redação, edição e revisão) e Paul Barbosa (fotografias).

Obrigada a todos! Olorum os abençoe pela alegria que me proporcionam...

Lucia Helena Corrêa
Rio de Janeiro, abril de 2013


sábado, 20 de abril de 2013

HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DOS ESTADOS UNIDOS


Nada justifica o terrorismo, sobretudo, quando o alvo são civis inocentes. O ataque à Maratona de Boston foi uma brutalidade inaceitável, que recomenda, por si mesmo, a resposta rápida e enérgica do Estado, cujo papel principal é (ou devia ser) proteger o cidadão. Brilhante, pois, foi a ação da polícia técnica para chegar aos suspeitos. Coisa de seriado...

Mas... por que será que o espinho da desconfiança está espetando a minha cabeça, quando se trata dos dois "suspeitos" identificados pelos órgãos de segurança dos Estados Unidos? Quem os ouviu? Aliás, um deles, Tamerlan Tsarnaev, nunca mais poderá ser interrogado: morreu "em confronto" (sic) com as forças policiais. Mas... alguém aí ou lá, testemunhou a suposta troca de tiros? Dzhokhar Tsarnaev, o jovem ontem capturado, irmão daquele que foi morto, dizem, dentro de uma banheira nos fundos de uma casa, estava ensanguentado e carregava uma bomba. Mas... alguém viu?

Desde quando se podem apresentar como provas documentais bonés e mochilas desintegradas pela explosão e supostamente "restauradas" pela polícia técnica? Ora, não sendo de grife e, portanto. de uso restrito, podem andar por aí, na cabeça e nas costas de qualquer adolescente! 

Que parte das investigações e da indispensável coleta de provas (de verdade), documentais e testemunhais, eu perdi? 

Onde e quando teriam sido o julgados os irmãos chechenos, a não ser, sumariamente, sem direito a defesa, pelos órgãos de segurança norte-americanos?

Ou eu muito me engano ou, sob intensa (e justa) pressão dos cidadãos norte-americanos (paranoicos pela própria natureza, em especial, depois daquele tenebroso 11 de Setembro), dispostos a dar mais uma demonstração de força à comunidade internacional, os órgãos de segurança, desconfio, saíram em busca do culpado e, não o encontrando, podem muito bem ter forjado um; isto é, dois...

O que as autoridades e órgãos de segurança norte-americanos ignoram é que, além da satisfação que devem aos cidadãos, no sentido de lhes prover a integridade física e psicológica, dando combate ao terrorismo, também devem apresentar, de maneira clara, inequívoca e indiscutível, as provas de que os suspeitos são, realmente, culpados. Muito mais quando a curta história de vida dos dois rapazes não combina com a brutalidade da ação terrorista, segundo testemunho de parentes, professores e amigos. Sabe quando o milagre não combina com o santo? Pois é...

Aparentemente, o único "defeito" de Tamerlan e Dzhokhar é ser da Chechênia, e como todo imigrante nos Estados Unidos, inspirarem a mais completa desconfiança e, em casos extremos, a total inversão dos valores: "são culpados até que se prove o contrário", e, não, "inocentes até que se prove o contrário", conforme recomenda o bom senso e o respeito à pessoa humana. 

Bem lembrado: que é dos órgãos de defesa dos Direitos Humanos, que não cobram maior transparência nas ações do governo norte-americano?!  

Hum... sei não... mas, com a luxuosa conivência da imprensa, como sempre, há algo de podre no reino dos Estados Unidos, o que, diga-se de passagem, não seria, propriamente, novidade...  Não no país que sempre colocou o nacionalismo cego, porque fundamentalista, acima da segurança, da paz e da felicidade das pessoas. 


Rio de Janeiro, 20 de abril de 2013.

Lucia Helena Corrêa 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

RACISMO. A CRUELDADE MENTAL DAS PALAVRAS E GESTOS




“Tolerância” racial? Por que alguém tem de ser tolerante comigo porque sou negra?  

“Você é uma negra de alma branca”. Isso eu já ouvi dezenas de vezes. Inclusive de pessoas que se diziam minhas amigas – até que lhes chutei a canela, claro! 

“Na conversa ao telefone, nunca pensei que você fosse assim”, disparam os dissimulados de pouca inteligência, quando, finalmente, me encontram ao vivo e a cores.

“Não sei por que se aborrece tanto, se você, afinal, nem é tão negra assim...”, de vez em quando, dispara algum desavisado, tentando me aliviar deste meu “defeito”. Comparada a uma folha de papel, afinal, a criatura que me “elogia” não é tão branca assim... Mas ela se acha... 

Pior, porém, é quando, ao chegar a uma festa na qual sou a única pessoa negra, o dono da casa, “meu amigo”, larga aquele “atenção, meus amigos, que eu gostaria de lhes apresentar LHC, jornalista, poeta, compositora, cantora, uma pessoa de primeira linha”... Os outros todos são apenas o que são... E basta! O desfile público de tantas qualidades só aplica ao meu caso.  Não porque não exista na festa alguém com tantos e até mais “talentos”, mas, sim, porque, o coitado precisa justificar minha presença ali... É evidente que, se eu lhe disser isso, ele, com certeza, vai negar a agressão velada e tentar me desqualificar, chamando-me de paranoica. “Imagina...”

E é inútil tentar mostrar que, muito mais do que uma simples questão de semântica, as palavras, traiçoeiras palavras, carregam enorme e nem sempre disfarçável dose de preconceito. 

Na verdade, palavras e gestos, traiçoeiros, vivem prontos para saltar no meio do discurso “democrático”, estão aí para denunciar as pessoas que somente não assume o racismo, porque racismo é cafonice e elas não querem ser cafonas. Como aquele menino inconfidente que conta, em pleno elevador, o que é que os pais deles dizem da vizinha que acabou de entrar... Palavras e gestos traem a cafonice, que ninguém quer, porque, simplesmente, não combina com diploma de doutor e roupas de grife. Ou será que combina? 

Casos como o do pastor do diabo, Marcos IN-Feliciano, são raros. Além de racista, ele é mais burro do que o peru, ave natalina capaz de ficar presa, se a isolarem com um círculo de giz apenas riscado no chão. IN-Feliciano não tem superego – aquele cara que, segundo Sigmund Freud, fica puxando a cordinha e nos impede de fazer besteira. Muito mais do que racista, IN-Feliciano é louco. Tal e qual o eram Herodes, Nero, Napoleão, Hitler, Ozama Bin Laden. Tal é qual o é o louco da Coréia do Norte, Kim Jong-um... E IN-Feliciano está longe de ser o “maluco beleza” cantado pelo imortal Raul Seixas. Pelo contrário, IN-Feliciano é um louco superqualificado e perigoso, porque do tipo fundamentalista!

Mulata, moreninha, parda, marrom bombom... já ouvi de tudo. Mas há uma expressão que, muito mais do que todas essas, me incomoda demais: “tolerância racial”. E incomoda porque, feito o espião, o agente do mal, foi plantada nos movimentos ditos democráticos e neles virou espécie de palavra de ordem, vício de linguagem. E é assim em todos os movimentos pela defesa dos direitos humanos. De repente, lá está o líder do grupo defendendo que “é preciso haver tolerância racial, sexual, religiosa, blá blá blá”...

Tolerância? Tolerância uma porra! Por que alguém tem de ser “tolerante” comigo porque sou negra?  Por que eu deveria “tolerar” o homossexual, o judeu, o cristão, o budista, o muçulmano, o portador de deficiência física ou mental? 

Não é o caso de “tolerar” nada nem ninguém! Nós temos é de olhar as pessoas com o respeito que todas merecem. Independentemente de raça, cor da pele, condição social, condição físico-mental, orientação sexual ou religião! 

Tolerância? Sinto, mas a minha já estacionou no nível zero! E isso, senhoras e senhores, em mim, não é somente mais uma questão de semântica...

Lucia Helena Corrêa
Rio de Janeiro, abril de 2013.