sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O ESPELHO DE PRÓSPERO*
Meus amores... segurei a onda até agora, vendo a maneira desdenhosa com a qual algumas pessoas se referem ao presidente Lula. Mas não dá mais... A gota d'água foi uma notinha preconceituosa, racista, abjeta que li nas Folhas... Não me posso mais calar. Ou eu não seria a LHC...
Não votei no Lula e, provavelmente, não votaria se ele se candidatasse outra vez. Mas não porque é o Lula... Na verdade, ainda não apareceu alguém que eu considere merecedor do meu voto para presidente da República. Em todos sempre sobra ou falta alguma coisa...
Nos últimos anos, só voto na Luiza Erundina. Mulher porreta! A única que passou pelo governo da maior cidade do pais sem enricar. Ainda hoje, mora no mesmo lugar e dirige o mesmo carrinho velho. O mesmo caráter. Mulher porreta!
Não votei no Lula porque ele não me inspirava a mais mínima confiança, cercado de vampiros, depois, aliás, apanhados com a boca em alguma jugular... José Dirceu era somente um deles...
Não votei no Lula talvez porque eu assisti ao primeiro comício que fez, no Campo de São Cristóvão, no meu Rio de Janeiro, quando o único defeito dele era o machismo (preferia dar entrevista às meninas...). Eu o entrevistei, em algumas greves... e, na campanha, já não reconhecia sequer a sombra daquele líder sindical impecável... Verniz demais... Como confiaria em alguém que mudou tanto?
Mas devo observar a sinceridade que caracteriza a jornalista que eu sou, a sinceridade que me faz, sempre, constatar e registrar o fato, nu a cru, sem distorções, apesar da minha convicção política.
Como cidadã e como jornalista, não dá para ser isenta, porque, simplesmente, eu não posso arrancar a minha própria pele... Mas devo ser honesta! E o que eu não posso negar é que o governo Lula não está sendo bom para mim. Eu estou necessariamente mais pobre do que era há dez anos. Mas Lula está sendo bom, sim, para a maioria pobre... Minha faxineira também só faz melhorar. Daqui a pouco, periga de ela me emprestar algum... Cantarola o dia inteiro... e gosta do Lula, pernambucano que nem ela.
Se há assistencialismo, paternalismo ou populismo isso já é outra coisa. Se a economia foi "artificialmente" inchada e vai murchar assim que o Lula virar as costas, isso nós vamos ver mais adiante (sinceramente, NÃO TORÇO PARA ISSO). Mas o que há para hoje, aqui, agora, é que os pobres ascenderam, sim, senhores! Que a nossa rejeição ao barbudão, inclusive porque preferimos o estilo refinado, não nos impeça de reconhecer a verdade dos fatos.
O poder de compra dos pobres deu um salto enorme. Melhor: a autoestima também... A esperança deu muitos saltos para cima. E, conforme dizia Ulisses Guimarães, "tire-se tudo do homem, menos a esperança"...
De repente, todos os "nordestinos mutilados" perceberam que, "se ele pôde, eu também hei de poder". De repente, todos os "seminanalfabetos" souberam, na prática, aquilo de que já suspeitavam: os homens de diploma, que não falam nóis vai, nóis vem, sabem Inglês, não tomam cachaça e não confessam que o povo está na merda, os elegantes, letrados não fizeram melhor... Não fizeram, simplesmente...
Mas, se os excluidos percebem isso, significa que se tornaram perigosos... Então, é preciso neutralizar a reação. Como? Desmoralizando o presidente -- o espelho de próspero. Aliás, ninguém faz isso melhor do que o brasileiro: falar mal de si mesmo, do país, do presidente, das coisas brasileiras. Do Lula, o mínimo que se diz é que é "burro"... Se a imagem projetada (do humilde) é boa, quebra-se o espelho... Mesmo sob pena de se ter sete anos de azar...
* Espelho de Próspero é o nome do livro no qual o historiador norte-americano, Richard Morse, à luz da História, identifica e analisa o que para ele, em nós, latino-americanos, seria uma tremenda crise de identidade. Nós não nos enxergamos uns nos outros...
LHC, a mulher-sigla
Se beber, não escreva. E nem leia!

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