sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Luiza Erundina, mulher porreta!


Ao contrário da maioria dos intelectuais de esquerda na minha idade – mortalmente atingidos pela amargura da revolução que não souberam fazer – não acredito que tudo esteja perdido... Não mesmo! O Brasil tem jeito, sim, senhores! É só a gente querer... e ter a coragem
de fazer o que tem de ser feito!Mas confesso que minha fé na justiça e no poder de discernimento do ser humano se estilhaça quando leio nos jornais que os mais diversos segmentos da sociedade paulistana estão-se mobilizando para ajudar a ex-prefeita Luiza Erundina a cumprir a condenação imposta pela 1ª Vara de fazenda Pública: pagar uma dívida de R$ 350 mil à Prefeitura.O que espanta não é, tão-somente, o exagero da pena. O que me incomoda é a forma como a dívida foi contraída: em março de 1989, quando ainda era apenas deputada, Erundina teria utilizado recursos públicos para pagar a veiculação na mídia de um comunicado que tratava da paralisação de ônibus, entre os dias 14 e 15 de março de 1989.O que me enlouquece não é apenas o fato de não caber mais recursos e, assim, ser esta a primeira e única condenação na longa e reta vida política da ex-deputada e ex-prefeita de São Paulo.O que me dói é verificar que o povo e a lei (não a Justiça), no Brasil de corruptos e ladrões, confessos e dissimulados, punem uma das pouquíssimas personalidades políticas que não engordaram a conta bancária ao passarem pelo governo da maior e mais importante cidade do País.
O que me tortura é certeza de que, no Brasil, bons antecedentes depõem contra...
O que me faz sangrar a alma-cidadã não é somente o fato de a Justiça (sic) ter acatado uma ação popular (Eta povinho equivocado!). A vontade popular que absolve e continua votando nesse escroto do Maluf é capaz de condenar logo a Erundina, única pessoa na qual desde sempre voto em total confiança, independentemente do partido no qual esteja (nunca fui PT e nem PSB). Luiza Erundina sempre mereceu e sempre merecerá o meu voto porque, mesmo atordoada diante do comunicado da condenação, tenho certeza de que em nenhum momento pensou que, se tivesse cedido à atávica vocação dos políticos brasileiros para a corrupção, o saque e o enriquecimento ilícito, talvez jamais tivesse sido questionada e, menos ainda, condenada. E, se fosse, teria de onde tirar esses R$ 350 mil... Luiza Erundina, do alto da mais plena dignidade, não se envergonha e nem se arrepende de nada. Ela faria tudo de novo! Do mesmo jeito! Luiza Erundina! Garra de sertaneja! Luiza Erundina! Mulher porreta!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CARTA DE AMOR...

quando estou presa na diálise, me passa cada coisa pela cabeça e pela caneta... Ontem, me passou esta carta de amor... Uma coisa que Fernando Pessoa, o poeta, disse ser a mais ridícula... (Mas disse, também, que mais ridículo e quem jamais escreveu uma carta de amor.) Quando eu me for para Saturno, não quero ir me sabendo ridícula...

Eu te amo, nego! Terna e eternamente!

***
Quando eu for morar em Saturno, vou sabendo que fiquei por aprender umas tantas coisas. Com certeza, sairei de cena, atriz reverente, pedindo desculpas. "Perdoem a nossa falha"!, direi inclinada sobre mim mesma, olhos baixos, presos ao chão... Quando eu for morar em Saturno, com certeza, irei sem ter aprendido aterceira maior virtude (a compaixão), embora, sem modéstia, me considere autoridade nas outras duas, bem mais importantes -- a lealdade e a generosidade.
Jamais traí a mim mesma. Nem ao amigo. Nem ao amante. Quando eu me busquei, estava lá. Quando eles me buscaram, cá estava eu... Sempre pronta. Sempre atenta. Sempre amante... Fui leal. Não dei tudo o que mereciam, aos meus amigos, filhos e amantes. Mas dei, sim, sempre, tudo o que existiu de melhor em mim. No fundo da minha alma não sobraram restos de nada. Tudo e a todos eu dei. Fui generosa. Mas não aprendi, diacho!, a virtude da compaixão, que nada tem a ver com o ódio. Ódio? Jamais! Odiar é como ingerir veneno e esperar que o inimigo morra. Bobagem! Mas, sem ódio, não aprendi a me apiedar dos que me ferem... Esses eu entrego ao julgamento (duro) de Xangô, meu Pai (Kaobabeci!).
De antemão, em discurso de autodefesa, tenho a meu favor o fato de ter aprendido a lição, de todas, mais difícil. Mais difícil que a própria vida, mais que Má-temática. Geometria, Trigonometria, Álgebra, Inglês britânico, Latim, Grego, Chinês...
Mas preciso te dizer, em bom Português: eu aprendi a amar, te amando. E te amando do único jeito que o amor aceita: tomando o amor como algo pleno, que se basta a si mesmo, e que, por isso mesmo, prescinde até do amante... Saber que da tua existência já me basta! Se vens, aí, é a glória -- faço poesia, música e lasanha... Mas, se não vens, o meu amor se realiza igual, porque está em mim. O meu amor, só e apenas ele, te faz meu. Aqui ou em Saturno...Bendito seja este amor, no outono da minha vida!

Repito: eu te amo!

LHC

P.S.: Mais uma vez: eu te amo!