segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CARTA DE AMOR...

quando estou presa na diálise, me passa cada coisa pela cabeça e pela caneta... Ontem, me passou esta carta de amor... Uma coisa que Fernando Pessoa, o poeta, disse ser a mais ridícula... (Mas disse, também, que mais ridículo e quem jamais escreveu uma carta de amor.) Quando eu me for para Saturno, não quero ir me sabendo ridícula...

Eu te amo, nego! Terna e eternamente!

***
Quando eu for morar em Saturno, vou sabendo que fiquei por aprender umas tantas coisas. Com certeza, sairei de cena, atriz reverente, pedindo desculpas. "Perdoem a nossa falha"!, direi inclinada sobre mim mesma, olhos baixos, presos ao chão... Quando eu for morar em Saturno, com certeza, irei sem ter aprendido aterceira maior virtude (a compaixão), embora, sem modéstia, me considere autoridade nas outras duas, bem mais importantes -- a lealdade e a generosidade.
Jamais traí a mim mesma. Nem ao amigo. Nem ao amante. Quando eu me busquei, estava lá. Quando eles me buscaram, cá estava eu... Sempre pronta. Sempre atenta. Sempre amante... Fui leal. Não dei tudo o que mereciam, aos meus amigos, filhos e amantes. Mas dei, sim, sempre, tudo o que existiu de melhor em mim. No fundo da minha alma não sobraram restos de nada. Tudo e a todos eu dei. Fui generosa. Mas não aprendi, diacho!, a virtude da compaixão, que nada tem a ver com o ódio. Ódio? Jamais! Odiar é como ingerir veneno e esperar que o inimigo morra. Bobagem! Mas, sem ódio, não aprendi a me apiedar dos que me ferem... Esses eu entrego ao julgamento (duro) de Xangô, meu Pai (Kaobabeci!).
De antemão, em discurso de autodefesa, tenho a meu favor o fato de ter aprendido a lição, de todas, mais difícil. Mais difícil que a própria vida, mais que Má-temática. Geometria, Trigonometria, Álgebra, Inglês britânico, Latim, Grego, Chinês...
Mas preciso te dizer, em bom Português: eu aprendi a amar, te amando. E te amando do único jeito que o amor aceita: tomando o amor como algo pleno, que se basta a si mesmo, e que, por isso mesmo, prescinde até do amante... Saber que da tua existência já me basta! Se vens, aí, é a glória -- faço poesia, música e lasanha... Mas, se não vens, o meu amor se realiza igual, porque está em mim. O meu amor, só e apenas ele, te faz meu. Aqui ou em Saturno...Bendito seja este amor, no outono da minha vida!

Repito: eu te amo!

LHC

P.S.: Mais uma vez: eu te amo!

Um comentário:

anja disse...

que lindo Lucia!
quando eu me for pra Saturno com certeza irei ridicula tb.
:))

Muito bom dizer te amo.

Tua carta me arrepiou.
bjos

:)