domingo, 28 de dezembro de 2008

EDITORIAL

De volta ao front! E de cara nova...

Graves problemas de saúde -- felizmente, agora superados -- somados à luta pela sobrevivência, que, na vida moderna, está sempre atrelada ao trabalho em excesso e à conseqüente falta de tempo para as coisas boas... (você sabe), me deixaram fora do ar todos estes meses.

De volta, porém, se reforça em mim a certeza de que, mesmo nas situações dolorosas e desconfortáveis, é possível, sim, extrair algo de muito bom. Quando o mal se abate sobre nós (ninguém está livre), logo se sabe, por exemplo, quem são os amigos-ursos... e quem são os amigos de verdade... Os amigos de verdade permanecem... Por e-mail ou telefone, cobram a palavra emudecida...

"O que foi? Alguém te censurou, LHC?", me perguntaram uns tantos... Em verdade, lhes digo que não, meus amores! Quem são eles para me calar? No auge da ditadura militar, anos de tortura e morte, nem eles, os moços de verde-oliva, com toda a truculência justificada pelo "estado de guerra", conseguiram me calar... Não seria agora...

Também nada tem a ver com a censura o fato de, agora, na volta, VIVA-VOZ abordar assuntos variados. VIVA-VOZ continua falando de telecomunicações -- uma das maiores fontes de tensão dos consumidores de serviços neste país. E, sendo assim, mantém o espaço para a denúncia dos desmandos das empresas de telefonia, TV por assintatura e acesso à Internet. Se não cumprirem a lei, pau nelas!
Nesta nova fase, VIVA-VOZ cede apenas ao impulso desta jornalista-cidadã, de comentar, de participar da vida (e isso é muito mais do que, simplesmente, viver...). E a vida não se restringe a este ou àquele tema...

VIVA-VOZ volta para falar de tudo aquilo que merecer um comentário, em tom de apluaso ou de vaia: economia, política, comportamento, cultura, religião, gente...
De volta, VIVA-VOZ escreve para os amigos que ficaram, e me cobraram a continuidade da palavra. De volta, que as primeiras palavras carreguem os nossos votos de um 2009 pleno de saúde, paz,. amor, bons amigos, boa comida, boa música e... muita grana no bol$$$o. Olorum abençoe a todos.

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Um pouco de poesia...

Em 2009,
experimente a loucura da paixão,
pura selvageria...
Mas, também, a suavidade
desses amores feitos só de ternura.
Faça pelo menos mais um amigo,
escreva cartas, telefone, mande flores...
Nas noites frias, tome sopa quente
(de preferência, em boa companhia),
mas muito mais sorvete
nas tardes de domingo ensolaradas.
Sempre que possível, pratique a alegria,
trabalhe menos e ache tempo
pra andar por aí... à toa.
Fale baixo, pense alto,
ouça os pássaros
e copie a leveza das borboletas.
Faça poesia!
Converse com os deuses.
Vá à luta!
Mas viva pra celebrar a paz.
Experimente ficar só
(ao menos meia hora por dia!),
mas exorcize o demônio da solidão.
É simples: abra o porta,
chame os vizinhos
e sente-se com eles na calçada.
Ame! Sonhe! Tente! Invente!
Menos é muito pouco.
O mais é quase nada.


(LHC, dezembro de 2008)

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E, ainda, embarcando no clima dos novos tempos...

Oba! ama! Yes! We can!

De repente, é feriado internacional na minha alma negra de mulher negra. De repente, dos meus olhos, negros olhos, lágrimas, transparentes lágrimas. E têm um surpreendente gosto de chocolate com pimenta. Há muito tempo, meu coração não pulsava tão forte assim. Um negro na Casa Branca! E isso é muito mais do que um trocadilho, ilustríssimos caras-pálidas! Aquele não é mesmo um país qualquer. Neste cinco de novembro do ano da graça de 2008, Barack Obama acordou presidente de um país que não é, mesmo, um país qualquer! Foi lá, em cinco de dezembro de 1955, na racista cidade de Montgomery, que a costureira e militante Rosa Parks foi presa e espancada porque se recusou a ceder o lugar no ônibus a um homem branco, conforme determinava a lei Jim Crow, de sececção racial, que garantia todos os direitos, regalias e prioridades a brancos. Aos negros, o chão para andar. Ou o escuro das solitárias nos complexos prisionais...
Hoje, é feriado internacional na minha alma negra de mulher negra. Trago o rosto inchado de chorar. Mas, pela primeira vez, em muitos anos, não é mais de revolta, humilhação, medo e vergonha (porque, pasmem!, o racismo dos outros é a mim que envergonha...).
Meus senhores, eu choro porque um homem negro, que, há 43 anos, no Alabama, seria surrado apenas por pisar na mesma calçada por onde passasse um branco, hoje, mora, come, dorme, ama e faz cocô na Casa Branca. E ainda levou com ele uma penca de negrinhos – a belíssima família Barack Obama!

Humano Barack Obama! Alah salve Obama!

Hoje, é feriado internacional na minha alma negra de mulher negra. E choro porque, hoje, quando amanheceu, eu era ainda mais negra do que sempre fui e tinha lavada a minha alma, a minha alma negra de mulher negra. Mas choro, principalmente, porque, um negro na Casa Branca restaura em mim a certeza de que, um dia (Olorum me permita ainda ver isso), nós todos não seremos nem negros nem brancos. Nem homens, nem mulheres. Nem hetero, nem homo, nem bissexuais. Nem ricos, nem pobres. Nem cristãos, nem muçulmanos. Um dia, seremos apenas gente... E nos amaremos, tocando nossas peles com muita ou pouca melanina, olhando-nos nos olhos e mirando, através deles, nossas almas, humanas almas...

Por isso, deixo a todos que lêm estas minhas reflexões, mas, em especial ao meu irmão Barack Obama, o poema aí embaixo e a oração a Olorum, para que lhe conserve a vida e o senso de justiça.

Motumbá, Barack Obama! Motumbá!

Negritude...
Da próxima vez que te chamarem negro sujo,
responde que, no começo, na tez,
éramos todos negros, iguais...
Depois, alguns degeneraram
e ficaram assim: brancos (ou negros) demais!